PERSPECTIVAS DO MUNDO LUSÓFONO
NOVAS OPORTUNIDADES NO ESPAÇO DA LUSOFONIA
(Esboço – Roteiro para um Diálogo)
Texto apresentado ao II Encontro da
Juventude Luso-Brasileira – São Paulo 2010
Prof. Dr. José Jorge Peralta
Professor da USP e Diretor da Casa de Portugal
“Povo desorganizado é povo tutelado”
I – A FORÇA DA LUSOFONIA
1. Gostaria de poder fazer desta hora que vamos passar juntos, um momento de grandes descobertas. Juntos iremos mais longe.
Quero fazer convosco uma viagem panorâmica pela Lusofonia, como um espaço auspicioso e sedutor. Quero falar-lhes de um contingente fantástico de 260 milhões de Lusófonos, distribuídos pelos cinco continentes. A Lusofonia é um espaço global.
A Lusofonia somos nós, com nosso potencial genético-cultural, nossas competências, nossas deficiências, nossa força desbravadora e pioneira, nossa persistência e nossa vontade de prosperar e servir. “Nós” aqui é um plural majestático: somos todos os falantes da Língua Portuguesa, que temos um modo próprio de viver e estar no mundo e de sentir a vida.
No nosso potencial genético, ainda se mantém, talvez esquecido em muitos, o sonho dos Templários, a coragem e ousadia dos nossos navegadores e povoadores e dos desbravadores dos sertões, os nossos bravos Bandeirantes.
A Lusa gente é um grande paradigma universal de coragem, de criatividade e de ousadia. Foi um povo que assombrou o mundo, por seus grandes feitos, que a posteridade não esquece.
Falar da lusofonia é falar dos valores e das forças matriciais que dão coesão a esses povos e lhes garantem o brilho e a vitalidade, numa identidade inconfundível, reforço ao seu bem-estar.
Como informo no subtítulo, este não é um estudo fechado. É um trabalho aberto: um esboço de roteiro para um estudo, a ser completado com os Textos Complementares:
e com os Documentos
para maiores esclarecimentos.
Aqui damos as linhas de pensamento que podem nos ajudar a dar coesão aos conhecimentos adquiridos, e abrir caminho para maior aprofundamento, para quem quiser ir mais longe.
Os Lusófonos ocupam seu lugar próprio e privilegiado, ao lado dos Anglófonos, dos Francófonos, dos Espanófonos, dos Italianófonos, etc.
3. Convido-os a revigorar algumas das forças matriciais que, por vezes, jazem esquecidas, num monturo de contradições, divergências e até de intrigas e golpes, que pessoas desinformadas semearam em nossas mentes, em nossas searas, sem nos darem oportunidade de buscar o contraditório para formarmos a nossa própria opinião. Os meios de comunicação são drásticos; são um trator que tudo arrasta e soterra, em vala comum.
A situação é tão grave e a desinformação tão abrangente que, na alegoria do “trigo e a cizânia” muitos já trocam a cizânia (o joio), pelo trigo; descartam o trigo e ficam com a cizânia. Nestes tempos, onde às pessoas são impingidos valores distorcidos, a referida inversão é prática comum, na política, no consumo e até na religião e na justiça.
Forças deletérias vão apequenando muita gente, mas isto acontece com todos os povos. Mas quanto mais gente se apequena, mais gente desperta para decantar as forças especiais da Lusofonia. No crisol é que se separa o ouro. São as forças centrípetas e centrífugas que movem a vida.
Esta sensação já a pressentiu Camões ao encerrar o Canto Máximo da Lusitanidade: Os Lusíadas. Escreveu Camões, com certa tristeza, mas sem desilusão:
“Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho.
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida”
(Lusíadas, C. X, 145)
O grande poeta nunca se desiludiu com seu povo, apesar de todos os percalços e falta de consideração que sofreu.
II- DESAFIOS E OPORTUNIDADES
4. Vim falar-lhes das grandes oportunidades que se abrem aos jovens, através de intercâmbio, nos Países Lusófonos.
Vim falar-lhes da Lusofonia e do nosso modo de ser Lusófono e como ele sabe enfrentar desafios.
Vim falar-lhes do intercâmbio que as Universidades da Lusofonia podem lhes proporcionar. A Universidade é espaço para ouvir e conviver com os grandes mestres e é também o espaço de encontro de pessoas como nós, sedentas de saber e de ousadias transformadoras que saibam construir o caminho do bem-estar, com dignidade, neste mundo lusófono, cheio de desafios e oportunidades.
Este ainda é um momento para pioneiros e desbravadores. Há muito por fazer, por toda a parte, para pessoas arrojadas, ousadas, criativas e dedicadas. Para os acomodados e mornos só resta a rede, a frustração, o tédio e o nada. Sejamos os novos Bandeirantes dos Tempos Modernos.
As decisões que vão sendo tomadas, nem sempre são as melhores, para as próximas gerações. Não basta decidir, é preciso saber optar. Precisamos estudar, observar e vivenciar. Pôr a mão na massa. Agir. Compartilhar competências e habilidades.
- Vim falar-lhes das Convergências da Lusofonia e algumas divergências.
- Vim falar-lhes de temas que podem nos alegrar o coração e a mente; que podem nos interessar e abrir novos caminhos. O mundo e o futuro é dos fortes e não dos fracos, dos abúlicos.
5. Vim falar-lhes, em poucas palavras, de temas que exigem de vós muita e permanente reflexão e observação:
- Falo-lhes da nossa Língua Portuguesa, como poder e como algo belo: “desta certeza sinfônica” de que falava Fernando Pessoa; das excelências da Língua Portuguesa, a terceira língua mais falada no Ocidente. (T.C. 7e 6)
- Falo-lhes da GlobiLíngua, da cidadania Lusófona da qual a grande força motriz é a Língua Portuguesa. (T.C. 5,3,4)
“Minha Pátria é a Língua Portuguesa” (Pessoa)
- Falo-lhes do Brasil Potência, deste gigante estonteado e aturdido por incrível corrupção, mas que não perde a esperança. O Brasil é sem dúvida, uma das mais vigorosas potências mundiais. Mas ainda não sabe fazer-se respeitar como tal. Temos poucos políticos estadistas e muitos pangarés. Os mais capazes fogem da política e deixam o espaço para os aventureiros.
- Falo-lhes de um país que pede mais respeito à natureza e melhor educação e saúde para todos. A boa educação é a força motriz do desenvolvimento e da justiça.
- Falo-lhes de Portugal, um país paradigmático, que teve e tem na história da humanidade um papel de extraordinária força transformadora e cujos passos pelo mundo deixaram pegadas indelébeis.
- Falo-lhes dos Países Lusófonos Africanos e Asiáticos e seu povo forte, gentil e persistente veneração.
- Falo-lhes das Universidades da Lusofonia, como espaço sagrado do saber e conviver, para um mundo melhor para todos, entre.
6. Quero falar-lhes das convergências e divergências na solidariedade Sul-Americana e de alguns equívocos a esclarecer, entre países irmãos.
A grande vantagem do Brasil, na América do Sul, é ser um país gigante e forte, de Língua Portuguesa, contra onze (11) países pequenos e mais frágeis... de língua espanhola. Cada país tem seus valores a serem respeitados e suas fraquezas a serem sanadas.
Sendo um só país, o Brasil, é superior, em território útil, aos 11 de língua espanhola; tem equivalente contingente demográfico; tem PIB superior e maior produção industrial.
O Brasil, sozinho, equivale à metade da América do Sul e, como potência, por ser um país único, é muito superior. Dez gravetos, unidos, são muito fortes; separados, são frágeis.
Os países precisam aprender a se respeitar fraternalmente, com suas especificidades e sua identidade própria e diversa. Saiba mais:
III – LUSOFONIA, MARCA MUNDIAL
7. Quero falar-lhes da Lusofonia, como uma auspiciosa marca mundial.
A Lusofonia prepara-se para ser, na próxima geração, um pólo de desenvolvimento, nos cinco continentes.
A Lusofonia não é só uma imensa potência econômica, política e de recursos materiais; é também uma grande força humanista, que nos dá um modo especial de estar e viver no mundo, que não podemos deixar perder.
O Brasil tem muito a ensinar ao mundo, mas precisa primeiro, saber quem é. O patinho feio pode ser o cisne real. Neste caso, é cisne real, mas nunca foi patinho feio.
O Brasil representa 75% de toda a Lusofonia.
A Lusofonia detém valores inestimáveis que precisa compartilhar e preservar para a posteridade.
Há sim muita gente semeando sementes da discórdia na Lusofonia. Mas há muito mais gente lutando pela construção de uma sociedade mais solidária, com prosperidade e trabalho para todos.
Até a nossa educação, tão enfraquecida por toda a parte, espera o momento de abrir novos rumos, para a nação, melhorando sua qualidade e desempenho.
Poderia ainda falar-lhes da Lusofonia como uma civilização miscigenada, original e vigorosa; uma civilização tropical, onde brancos, negros, amarelos, vermelhos e pardos/miscigenados vivem e convivem, solidários e cordialmente. Só não vê quem não quer, ou quem fatura na divergência.
8. Os Povos Lusófonos da África e da Ásia sofreram espantoso atraso, em seu desenvolvimento, por mais de 20 anos de Guerra Colonial, seguida de Guerra Civil predatória.
Não podemos esquecer o país mártir, TIMOR LESTE, cuja capital foi toda queimada pelo invasor, a Indonésia, inclusive a Universidade, quando o invasor foi obrigado a sair do território, ocupado pela força...
Esses povos viram assim retardado o seu crescimento, com retrocesso e com a morte de muitos jovens, com a desagregação das famílias, com miséria, doença, fome, violência, analfabetismo e vilanias que são pragas a serem extirpadas. Através de programas de Alfabetização Solidária, o Brasil deu a esses povos Lusófonos um grande reforço.
Mas golpes, intrigas e disputas grupais continuam, como por toda a parte. A inveja e a ganância de alguns têm alto preço para a civilização.
Hoje, esses novos países já começam a reencontrar o caminho do desenvolvimento.
9. Enfim, a solidariedade lusófona vai despertando e tomando consciência do próprio potencial.
O Brasil e Portugal foram em socorro dos países irmãos, ajudando a debelar a chaga do analfabetismo e de muitas carências, fornecendo tecnologia para alavancar o novo surto de prosperidade, na agricultura, na indústria e na educação.
A Educação é a força motriz do desenvolvimento, da prosperidade sustentável e da criatividade.
10. Hoje, apesar de muitas divergências e dificuldades, o futuro começa a sorrir para esses povos lusófonos. Já começa a brilhar, no horizonte, o sol de dias com mais paz e bem-estar.
Mas ainda há muitas manchas de ganância e de arrogância, filhos da ignorância, a serem debelados, por prática e atitudes positivas e agregadoras.
Todos os países Lusófonos, hoje, já têm muita gente bem preparada, na ciência e na tecnologia.
Muitos jovens foram enviados para Universidades de Portugal, do Brasil e de outros Países. Só a USP formou alguns milhares de pessoas que hoje sabem contribuir com eficiência para o desenvolvimento de seu país. Mas ainda precisa de muito mais gente preparada, dedicada e competente.
Hoje, todos os países lusófonos têm as próprias universidades. Mas às vezes faltam-lhes os grandes mestres capazes de aquecer as inteligências com a força da criatividade. Muitos ainda não despertaram para as forças humanistas e criativas da lusofonia, que vicejam naturalmente, onde o campo não é pasteurizado.
A cobiça e o déficit em saúde e educação ainda são problemas.
Bem hajam os construtores da paz, com justiça, prosperidade e bem-estar, revigorando as forças genuínas da lusofonia universalista.
IV – UMA VIAGEM PELA LUSOFONIA, NA ÁFRICA E ÁSIA
11. ANGOLA e MOÇAMBIQUE, países riquíssimos, em seu solo, e de grande território, começam a abrir novos caminhos para a economia e para a educação e bem-estar. Serão o novo Brasil, cada um a seu modo.
CABO VERDE é um país promissor. Há dezenas de anos tem analfabetismo zero. Isso faz do país um pólo universitário, como veremos.
GUINÉ BISSAU e SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, também vão se abrindo para o novo tempo, vencendo algumas dificuldades superáveis.
TIMOR LESTE, no Oriente, é um país em franco desenvolvimento, apesar de estar enfrentando a cobiça dos vizinhos, e divergências internas, pelo mesmo motivo.
PORTUGAL e o BRASIL ainda serão por algum tempo, os grandes baluartes da Lusofonia. Ou serão sempre o grande paradigma de uma Lusofonia forte e atuante.
Hoje, os países lusófonos da África estão atraindo grandes investimentos do Japão, da China, da Europa (Espanha, Portugal, etc.) e também do Brasil. Destacam-se Angola e Moçambique.
12. Precisamos ressaltar que a Lusofonia está presente e muito atuante em muitos outros países não lusófonos: Nos EUA, no Canadá, na Venezuela, e por todas as Américas e Caribe, na Europa, na Ásia, na África e na Oceania. A Pátria lusófona está assentada muito além dos PALOPs.
É um novo mundo, uma nova fronteira de desenvolvimento que vai se abrindo a passos largos.
Os países lusófonos já se preparam para ser um grande pólo de desenvolvimento, em escala mundial. Potencial não lhes falta. Faltam-lhes ainda muitas forças agregadoras e revitalizadoras, com mais confiança e solidariedade, e mais paz para tudo se agigantar e prosperar.
Acredito que está na hora de as Câmaras de Comércio dos países lusófonos se expandirem e fortalecerem. E, (por que não?), fundarem a Federação das Câmaras do Comércio dos Países Lusófonos e/ou a Federação das Câmaras de Comércio dos Países Lusófonos Africanos.
Tal Federação poderia estimular o desenvolvimento através de intercâmbio de ideias, facilitando o ordenamento de ações que a todos beneficiassem, alavancando o progresso, desses países, com vantagens para todos e para a humanidade. Quando um país se eleva, eleva o mundo.
V – TEXTOS COMPLEMENTARES
13. Para aprofundar os tópicos traçados acima, recomendo a leitura dos textos complementares que seguem, em seu endereço na Internet.
TC 1 - O Brasil na América do Sul
TC 2 - Fazer Política no Mundo Português e Luso-Brasileiro
TC 3 - O Grande Despertar da Língua Portuguesa no Mundo
TC 4 - Língua Portuguesa, a Língua da Globalização
TC 5 Projeto Globilíngua - Língua Portuguesa como Língua Internacional
TC 6 - Versatilidade e Simpatia - Alma da Língua Portuguesa
TC7 - Sonoridade, Força e Versatilidade da Língua Portuguesa
VI- OPORTUNIDADES NO MUNDO UNIVERSITÁRIO DA LUSOFONIA
14. Trato a seguir das oportunidades de intercâmbio em nível de Graduação e pós-graduação dos alunos brasileiros, nas Universidades de Portugal e Países Lusófonos.
Devemos de início realçar que, através da Declaração de Bolonha, todos os Países da União Européia se responsabilizaram por fazer valer normas de qualidade comuns a todos os Países coligados.
Hoje vai se expandindo o costume de muitos alunos completarem graduação e pós-graduação no exterior, ou através de convênios entre universidades, válidos no Brasil e no estrangeiro.
O intercâmbio universitário pode trazer muitas vantagens ao aluno e ao país.
Os alunos de países lusófonos podem usufruir, em Portugal, de diversas vantagens. Em algumas universidades de Portugal, há cotas para alunos de Países Lusófonos.
Aliás, na USP, em São Paulo , e também em outras universidades há também facilidades para matrícula de alunos de Países Africanos e da América do Sul. Buscar Informação no CCint-USP - (Doc. 5 e 6).
Em Portugal os interessados deverão procurar as instituições que têm convênio com o Projeto Erasmus – UE - (Doc 3) e o Programa Erasmus Mundus, para o programa de Graduação e Pós-Graduação (Doc. 4).
Ver também o Erasmus no Brasil (Doc 5).
Para conhecer os princípios básicos que norteia o Ensino Superior nos países da União Européia - UE, leia: Declaração de Bolonha (Doc 18).
15. As principais Universidades de Portugal você pode consultá-las (Doc 1)
Ver também Universidades dos Países Lusófonos africanos e também do Timor Leste, onde o interessado pode fazer algum curso de Intercâmbio, para conhecer, in loco, as potencialidades do país (Doc2).
16. Para se informar mais sobre os projetos intergovernamentais e particulares para a difusão da Língua Portuguesa como Língua Internacional. Leia: DOC 10 e Doc 11.
Para conhecer o Instituto Camões e o Instituto Machado de Assis (em formação) Lei Docs: 12 e 13.
Para conhecer o Projeto GlobiLíngua. Leia: Doc 14, Doc 15, Doc 16 e Doc 17.
Para conhecer algo sobre Literatura e Identidade Nacional dos Povos Lusófonos, Leia (DOC 9)
17. Para conhecer os grandes Diplomas Oficiais que regem as relações culturais Brasil – Portugal, analise os documentos a seguir relacionados:
DOC 7 – Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre Portugal e o Brasil, assinado em 22 de Abril de 2000.
DOC 8 – Declaração Conjunta Portugal-Brasil – VIII Cimeira Luso-Brasileira – 2005 Relações bilaterais e Reconhecimento de Graus e Títulos Acadêmicos em Portugal e no Brasil.
Notas:
1. Demos acima apenas uma pequena mostragem de Docs que podem nos ajudar a prosseguir numa pesquisa ampla. O importante é consultar os documentos e normas que podem nos ajudar a buscar melhores caminhos.
2. Os Documentos citados aqui, o Leitor pode encontrá-los em:
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