domingo, 3 de setembro de 2006

USP - CCINT


Globalização acadêmica

Ampliar o número de alunos estrangeiros na USP, enviar mais estudantes para o exterior e estimular a vinda de professores-visitantes são alguns dos objetivos da Comissão de Cooperação Internacional
A Comissão de Cooperação Internacional da USP (CCInt) quer atrair cada vez mais estudantes e professores estrangeiros para a Universidade, e ao mesmo tempo ampliar o número de alunos e docentes da USP que realizam atividades fora do País. Atualmente, dos cerca de 80 mil estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade, apenas em torno de 2% – pouco mais de 1.600 – são estrangeiros. O porcentual é semelhante quando se fala em uspianos nas instituições estrangeiras.

Melges: novo patamar e novas parceiras
“Esse é um número importante, mas ainda aquém do que se deseja”, diz o professor Adnei Melges de Andrade, que responde pelo órgão. Uma das sinalizações de que a CCInt está ganhando um status diferenciado na busca por um novo patamar na internacionalização da USP é a própria designação do cargo de Melges, agora chamado de vice-reitor de Relações Internacionais – a exemplo do que ocorre em muitas instituições no mundo.
A intenção, de acordo com o professor, é elevar o número de alunos estrangeiros para 5% ou até 10%. Atualmente, a USP mantém cerca de 400 convênios com universidades de mais de 50 países. Para Melges, o importante não é o número de convênios, mas a intensidade das atividades acadêmicas desenvolvidas neles. “Estamos trabalhando mais intensamente na realização de convênios de qualidade”, diz.
O vice-reitor explica que se trata de aprofundar as relações com as universidades mais bem colocadas nos rankings internacionais, nos quais em geral a própria USP tem aparecido entre as 200 primeiras – “e é bom observar que há mais de 10 mil universidades no mundo”, salienta. De acordo com Melges, isso não significa descurar da forte aproximação com as universidades da América Latina e da África, especialmente dos países de língua portuguesa. A USP recebe estudantes de todos os continentes. As maiores comunidades de alunos estrangeiros são, pela ordem, de colombianos, peruanos e franceses.
Moradia – O vice-reitor reconhece que ainda há problemas para receber os alunos de fora. Uma das demandas é aumentar a oferta de cursos de língua portuguesa. Também é necessário preparar melhor os alunos da USP para falar e escrever na língua do país para onde irão. Um dos projetos em pauta é construir uma edificação especificamente para abrigar esses cursos – de inglês, espanhol, francês, italiano, alemão etc., que seriam dados de forma instrumental, e ainda de português para estrangeiros. Também seria ampliado o número de monitores, ligados à estrutura de formação em idiomas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).
Outra dificuldade é a escassez de moradia para alunos estrangeiros. Em geral, as universidades oferecem alojamentos em seus próprios campi, mas a USP enfrenta carência de vagas até para os estudantes brasileiros. “Estamos discutindo com a Prefeitura da cidade para termos moradias perto de estações do Metrô e assim facilitar a vinda dos estudantes de outros países. Isso pode até transformar São Paulo num polo universitário internacional, o que seria altamente desejável”, considera o vice-reitor.
A Universidade já possui experiências de oferta de disciplinas e cursos em inglês em algumas unidades. Outras se preparam para fazê-lo, mas é preciso oferecer o mesmo curso também em português. “Tudo isso vai aumentar a possibilidade de sermos mais conhecidos no exterior e de que o aluno que aqui esteve, se tiver gostado, se transforme num ‘embaixador’ da USP em seu país”, acredita Melges.
Pesquisa – Outro foco da CCInt é ampliar a presença de pesquisadores e docentes estrangeiros para trabalhar por períodos mais longos. De acordo com o vice-reitor, essa é uma forma de “estabelecer vínculos de maior intensidade, porque esses professores se tornam uma ponte entre nós e a sua universidade de origem”. Já existe um programa, criado em julho de 2009, que vem sendo aperfeiçoado para permitir que todas as unidades tenham professores visitantes por períodos de pelo menos 12 meses – podem ser três professores por quatro meses cada um, ou quatro por três meses, exemplifica Melges. O objetivo é que esses docentes, além de fazer pesquisa colaborativa, também deem seminários e palestras e lecionem na pós-graduação.
A USP traz de 40 a 50 professores visitantes por ano, o que significa praticamente, na média, apenas um por unidade. Outros vêm por meio de programas ou convênios ligados diretamente a órgãos de fomento como Fapesp e CNPq, mas a Universidade não tem como precisar esses números. Seja como for, avalia Melges, também é um índice abaixo do desejável.
A CCInt quer que todas as unidades possuam comissões locais de relações internacionais – atualmente, existem cerca de 30. Para estimulá-las, se dispõe a transferir o conjunto de experiências e boas práticas que já acumulou, inclusive acolhendo funcionários das unidades para estágios na CCInt. Unidades como a Escola Politécnica e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) já fazem intercâmbio de centenas de estudantes por ano. Um exemplo positivo de mudança citado pelo vice-reitor é o da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que há cinco anos possuía poucos convênios e atualmente tem cerca de 30, já realizando intercâmbios de cerca de cem estudantes por ano.
Redes – Melges também estimula a integração em redes e associações internacionais de escolas, prática comum em unidades como a FEA, a Poli e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba. A Universidade já integra vários desses grupos, como a Rede Magalhães, o Grupo Tordesilhas e o Grupo de Coimbra, entre outros, cujo foco principal é o intercâmbio de professores e pesquisadores.
Também está no horizonte o aumento da integração com a China, que cada vez mais estreita laços comerciais e econômicos com o Brasil. “O engenheiro brasileiro precisa conhecer a produção industrial da China, assim como o advogado precisa conhecer a legislação de lá. Nossos estudantes têm que se preparar para saber como melhor interagir com essas realidades”, aponta o professor. Na semana passada, a USP recebeu um grupo de cerca de 40 alunos e professores chineses que fazem um roteiro de visitas por diversas instituições brasileiras.
Para se tornar mais conhecida no exterior e facilitar a vinda de professores e pesquisadores, a USP está trabalhando também na produção de novos materiais de divulgação em inglês e outras línguas. A ênfase é destacar as pesquisas da Universidade em áreas em que o Brasil tem chamado a atenção, como os programas de combustíveis menos poluentes, indústria aeronáutica e melhoramento genético de grãos, ressalta Melges.
(Matéria de Paulo Hebmüller, publicada na edição nº 898 do Jornal da USP, de 16 a 22/08/2010)

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