VI
REVIGORAR OU MARGINALIZAR A NORMA PADRÃO
20. Rejeição ao Simplismo e ao Populismo na Educação
Os Linguistas querem sair a campo, como tutores do ensino da Língua Materna, sem ouvir, com respeito, outros especialistas, é, no mínimo, um acinte e um contrassenso. A questão do ensino da língua materna é uma questão muito mais complexa do que alguns imaginam. O que ensinar, como ensinar, quando ensinar, é algo a ser pensado e repensado, sempre.
A língua, além do capítulo de Linguística descritiva formal, tem dimensões semânticas, estilísticas, semióticas, sociológicas, psicológicas, políticas, culturais etc, etc. Até a dimensão econômica, que não há como descartar.
Não dá para ter atitudes simplistas ou populistas, em um assunto tão complexo e fundamental, num país civilizado, tal qual vem acontecendo. Tais atitudes beiram a irresponsabilidade cívica.
O estudo da sociolinguística poderá ajudar o autor a superar a balbúrdia populista em que se meteu... Ajudaria muito os especialistas do MEC.
Olhar uma só das dimensões da linguagem é miopia. Pode levar a graves consequências, como estamos vendo.
Se não reagirmos, o ensino da Língua Materna, que já está mal, ficará ainda pior. Como alguns “linguistas” afirmam que o falante já sabe (?!) a língua, então é melhor dispensar o professor e ensinar outra disciplina (?!)
21. Um Diálogo que Interessa a Todos
Falar do ensino de Língua Materna não é questão para neófitos de parca visão sócio-político-cultural. Não é questão para iniciantes inexperientes.
É um acinte criticar jornalistas e escritores por darem sua opinião nesta questão tão séria.
O MEC intervém, de modo irresponsável e atabalhoado, no ensino da Língua Portuguesa, no Brasil, e precisa ser contestado pelas pessoas capazes.
Ninguém pode se omitir, diante desse populismo barato e, socialmente, decadente.
As pessoas citadas (Mônica, Tezza, Garcia, Lacerda e Buarque) não
são, certamente, os pensadores mais avalizados para tratar sobre a questão em pauta, do ponto de vista linguístico. São, no entanto, pessoas avalizadas, como pensadores, como formadores de opinião e como cidadãos respeitáveis.
A língua é patrimônio de todos. Merece todo o nosso cuidado e dedicação.
Neste caso, na questão de ensino da Língua, ninguém tem o Monopólio
do saber. O que não podemos deixar de saber é que, na língua, há muitos outros lados a considerar, além do linguístico, que não podem ser esquecidos ou que podem ser tratados, em outros parâmetros e com outros paradigmas.
22. Uma Língua de 260 Milhões de Falantes
A Língua falada por um povo, devidamente normatizada, passa
pelos modelos linguísticos, mas vai muito mais além, entrando nas questões de Política da Língua, tornando-a uma das forças matriciais da unidade e da soberania nacional.
A nossa Língua Portuguesa é um patrimônio da humanidade. É também um veículo eficaz de relacionamento com outros povos.
No Brasil, a Língua Portuguesa não é apenas patrimônio de cada falante. É um patrimônio respeitável de 190 milhões de pessoas. No mundo é falada por mais de 260 milhões de pessoas. É a terceira Língua mais falada do Ocidente
Assim é, em todas as línguas civilizadas: em todas as línguas latinas e anglo-saxônicas, no árabe, e em todas as línguas Orientais. Todas seguem uma norma padrão que convive com outras normas. Não há língua monolítica.
A Norma Padrão é a Bandeira Linguística de todos os povos civilizados.
23. Norma Padrão e Internacionalização da Língua
À escola compete ensinar a norma padrão universal da língua materna. As variantes locais não precisam ser ensinadas, mas devem ser respeitadas.
É na norma-padrão que todos nos entendemos, entre nós, e com pessoas de outras línguas, num mundo sem fronteiras.
Em todo o Brasil, em qualquer norma local, todos nos entendemos
muito bem. Falamos a mesma língua.
Querer implantar as ideias esdrúxulas, de alguns “linguistas”, citados na
bibliografia, do artigo citado, como se fossem a última palavra, seria, efetivamente, uma tragédia cultural. Não há hipótese.
Temos centenas de especialistas que produziram obras imortais, que alguns querem esquecer, trocando-os por iniciantes. Não passarão!
Foi nessa canoa furada que o MEC embarcou, ingenuamente (?!), cometendo um dos piores erros do MEC, nos últimos tempos. Um erro primário, ofensivo a tantos pensadores, também linguistas e de outras esferas do conhecimento, que trataram este assunto, no passado remoto e no recente e no presente, com a maior seriedade, respeito e competência.
Num momento em que os países de Língua Portuguesa se unem para fazer a Língua Portuguesa uma das Línguas Internacionais da humanidade, esta questão, em pauta no MEC, tem o sabor amargo das ideias fora de lugar.
Enfim, as pessoas como as instituições, eventualmente dão trombadas na vida, precisando, em seguida, repensar seu percurso e corrigir a falha, para evitar mal maior.
Voltarei ao assunto em breve. Aguarde.
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O texto referido está no site: www.casaagostinhodasilva.org
Nota: este Ensaio tem como contraponto, o livro “Por uma vida melhor”, distribuído pelo MEC, e textos de Marcos Bagno, principalmente “Preconceito Linguístico”, e um artigo do Professor Possenti
Consulte também: www.globilingua.blogspot.com
José Jorge Peralta é doutor em
Linguística pela USP e professor
da USP (aposentado). Atuei da Área de Graduação e de Pós-Graduação
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