segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SIU


- Declaração Conjunta - DOC 8(clique)


LÍNGUA  PORTUGUESA, LÍNGUA INTERNACIONAL





UNIVERSIDADES COOPERAÇÃO  PORTUGAL - BRASIL


PROGRAMA ERASMUS MUNDUS



PROGRAMA DE BOLSAS ERASMUS MUNDUS





domingo, 5 de setembro de 2010

Perspectivas

PERSPECTIVAS DO MUNDO LUSÓFONO
NOVAS OPORTUNIDADES NO ESPAÇO DA LUSOFONIA
(Esboço – Roteiro para um Diálogo)

Texto apresentado ao II Encontro da
Juventude Luso-Brasileira – São Paulo 2010

Prof. Dr. José Jorge Peralta
  Professor da USP e Diretor da Casa de Portugal

“Povo desorganizado é povo tutelado”


I – A FORÇA DA LUSOFONIA

1. Gostaria de poder fazer desta hora que vamos passar juntos, um momento de grandes descobertas. Juntos iremos mais longe.
Quero fazer convosco uma viagem panorâmica pela Lusofonia, como um espaço auspicioso e sedutor. Quero falar-lhes de um contingente fantástico de 260 milhões de Lusófonos, distribuídos pelos cinco continentes. A Lusofonia é um espaço global.
A Lusofonia somos nós, com nosso potencial genético-cultural, nossas competências, nossas deficiências, nossa força desbravadora e pioneira, nossa persistência e nossa vontade de prosperar e servir. “Nós” aqui é um plural majestático: somos todos os falantes da Língua Portuguesa, que temos um modo próprio de viver e estar no mundo e de sentir a vida.
No nosso potencial genético, ainda se mantém, talvez esquecido em muitos, o sonho dos Templários, a coragem e ousadia dos nossos navegadores e povoadores e dos desbravadores dos sertões, os nossos bravos Bandeirantes.
A Lusa gente é um grande paradigma universal de coragem, de criatividade e de ousadia. Foi um povo que assombrou o mundo, por seus grandes feitos, que a posteridade não esquece.
Falar da lusofonia é falar dos valores e das forças matriciais que dão coesão a esses povos e lhes garantem o brilho e a vitalidade, numa identidade inconfundível, reforço ao seu bem-estar.

2. A Lusofonia está em todo o Globo, a tal ponto de o sol nunca se pôr no Mundo Lusófono.
Como informo no subtítulo, este não é um estudo fechado. É um trabalho aberto: um esboço de roteiro para um estudo, a ser  completado com os Textos Complementares:
e com os Documentos
para maiores esclarecimentos.
            Aqui damos as linhas de pensamento que podem nos ajudar  a dar coesão aos conhecimentos adquiridos, e abrir caminho para maior  aprofundamento, para quem quiser ir mais longe.

Os Lusófonos ocupam seu lugar próprio e privilegiado, ao lado dos Anglófonos, dos Francófonos, dos Espanófonos, dos Italianófonos, etc.

3. Convido-os a revigorar algumas das forças matriciais que, por vezes, jazem esquecidas, num monturo de contradições, divergências e até de intrigas e golpes, que pessoas desinformadas semearam em nossas mentes, em nossas searas, sem nos darem oportunidade de buscar o contraditório para formarmos a nossa própria opinião. Os meios de comunicação são drásticos; são um trator que tudo arrasta e soterra, em vala comum.
A situação é tão grave e a desinformação tão abrangente que, na alegoria do “trigo e a cizânia” muitos já trocam a cizânia (o joio), pelo trigo; descartam o trigo e ficam com a cizânia. Nestes tempos, onde às pessoas são impingidos valores distorcidos, a referida inversão é prática comum, na política, no consumo e até na religião e na justiça.

Forças deletérias vão apequenando muita gente, mas isto acontece com todos os povos. Mas quanto mais gente se apequena, mais gente desperta para decantar as forças especiais da Lusofonia. No crisol é que se separa o ouro. São as forças centrípetas e centrífugas que movem a vida.
Esta sensação já a pressentiu Camões ao encerrar o Canto Máximo da Lusitanidade: Os Lusíadas. Escreveu Camões, com certa tristeza, mas sem desilusão:
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho.
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida
                        (Lusíadas, C. X, 145)

O grande poeta nunca se desiludiu com seu povo, apesar de todos os percalços e falta de consideração que sofreu.

II- DESAFIOS E OPORTUNIDADES

4. Vim falar-lhes das grandes oportunidades que se abrem aos jovens, através de intercâmbio, nos Países Lusófonos.
Vim falar-lhes da Lusofonia e do nosso modo de ser Lusófono e como ele sabe enfrentar desafios.
Vim falar-lhes do intercâmbio que as Universidades da Lusofonia podem lhes proporcionar. A Universidade é espaço para ouvir e conviver com os grandes mestres e é também o espaço de encontro de pessoas como nós, sedentas de saber e de ousadias transformadoras que saibam construir o caminho do bem-estar, com dignidade, neste mundo lusófono, cheio de desafios e oportunidades.
Este ainda é um momento para pioneiros e desbravadores. Há muito por fazer, por toda a parte, para pessoas arrojadas, ousadas, criativas e dedicadas. Para os acomodados e mornos só resta a rede, a frustração, o tédio e o nada. Sejamos os novos Bandeirantes dos Tempos Modernos.
As decisões que vão sendo tomadas, nem sempre são as melhores, para as próximas gerações. Não basta decidir, é preciso saber optar. Precisamos estudar, observar e vivenciar. Pôr a mão na massa. Agir. Compartilhar competências e habilidades.
- Vim falar-lhes das Convergências da Lusofonia e algumas divergências.
- Vim falar-lhes de temas que podem nos alegrar o coração e a mente; que podem nos interessar e abrir novos caminhos. O mundo e o futuro é dos fortes e não dos fracos, dos abúlicos.

5. Vim falar-lhes, em poucas palavras, de temas que exigem de vós muita e permanente reflexão e observação:
- Falo-lhes da nossa Língua Portuguesa, como poder e como algo belo: “desta certeza sinfônica” de que falava Fernando Pessoa; das excelências da Língua Portuguesa, a terceira língua mais falada no Ocidente. (T.C. 7e 6)
- Falo-lhes da GlobiLíngua, da cidadania Lusófona da qual a grande força motriz é a Língua Portuguesa. (T.C. 5,3,4)
Minha Pátria é a Língua Portuguesa” (Pessoa)
- Falo-lhes do Brasil Potência, deste gigante estonteado e aturdido por incrível corrupção, mas que não perde a esperança. O Brasil é sem dúvida, uma das mais vigorosas potências mundiais. Mas ainda não sabe fazer-se respeitar como tal. Temos poucos políticos estadistas e muitos pangarés. Os mais capazes fogem da política e deixam o espaço para os aventureiros.
- Falo-lhes de um país que pede mais respeito à natureza e melhor educação e saúde para todos. A boa educação é a força motriz do desenvolvimento e da justiça.
- Falo-lhes de Portugal, um país paradigmático, que teve e tem na história da humanidade um papel de extraordinária força transformadora e cujos passos pelo mundo deixaram pegadas indelébeis.
- Falo-lhes dos Países Lusófonos Africanos e Asiáticos e seu povo forte, gentil e persistente veneração.
- Falo-lhes das Universidades da Lusofonia, como espaço sagrado do saber e conviver, para um mundo melhor para todos, entre.

6. Quero falar-lhes das convergências e divergências na solidariedade Sul-Americana e de alguns equívocos a esclarecer, entre países irmãos.
A grande vantagem do Brasil, na América do Sul, é ser um país gigante e forte, de Língua Portuguesa, contra onze (11) países pequenos e mais frágeis... de língua espanhola. Cada país tem seus valores a serem respeitados e suas fraquezas a serem sanadas.
Sendo um só país, o Brasil, é superior, em território útil, aos 11 de língua espanhola; tem equivalente contingente demográfico; tem PIB superior e maior produção industrial.
O Brasil, sozinho, equivale à metade da América do Sul e, como potência, por ser um país único, é muito superior. Dez gravetos, unidos, são muito fortes; separados, são frágeis.
Os países precisam aprender a se respeitar fraternalmente, com suas especificidades e sua identidade própria e diversa. Saiba mais:



III – LUSOFONIA, MARCA MUNDIAL

7. Quero falar-lhes da Lusofonia, como uma auspiciosa marca mundial.
A Lusofonia prepara-se para ser, na próxima geração, um pólo de desenvolvimento, nos cinco continentes.
A Lusofonia não é só uma imensa potência econômica, política e de recursos materiais; é também uma grande força humanista, que nos dá um modo especial de estar e viver no mundo, que não podemos deixar perder.
O Brasil tem muito a ensinar ao mundo, mas precisa primeiro, saber quem é. O patinho feio pode ser o cisne real. Neste caso, é cisne real, mas nunca foi patinho feio.
O Brasil representa 75% de toda a Lusofonia.
A Lusofonia detém valores inestimáveis que precisa compartilhar e preservar para a posteridade.

Há sim muita gente semeando sementes da discórdia na Lusofonia. Mas há muito mais gente lutando pela construção de uma sociedade mais solidária, com prosperidade e trabalho para todos.
Até a nossa educação, tão enfraquecida por toda a parte, espera o momento de abrir novos rumos, para a nação, melhorando sua qualidade e desempenho.
Poderia ainda falar-lhes da Lusofonia como uma civilização miscigenada, original e vigorosa; uma civilização tropical, onde brancos, negros, amarelos, vermelhos e pardos/miscigenados vivem e convivem, solidários e cordialmente. Só não vê quem não quer, ou quem fatura na divergência.

8. Os Povos Lusófonos da África e da Ásia sofreram espantoso atraso, em seu desenvolvimento, por mais de 20 anos de Guerra Colonial, seguida de Guerra Civil predatória.
Não podemos esquecer o país mártir, TIMOR LESTE, cuja capital foi toda queimada pelo invasor, a Indonésia, inclusive a Universidade, quando o invasor foi obrigado a sair do território, ocupado pela força...
Esses povos viram assim retardado o seu crescimento, com retrocesso e com a morte de muitos jovens, com a desagregação das famílias, com miséria, doença, fome, violência, analfabetismo e vilanias que são pragas a serem extirpadas. Através de programas de Alfabetização Solidária, o Brasil deu a esses povos Lusófonos um grande reforço.
Mas golpes, intrigas e disputas grupais continuam, como por toda a parte. A inveja e a ganância de alguns têm alto preço para a civilização.
Hoje, esses novos países já começam a reencontrar o caminho do desenvolvimento.

9. Enfim, a solidariedade lusófona vai despertando e tomando consciência do próprio potencial.
O Brasil e Portugal foram em socorro dos países irmãos, ajudando a debelar a chaga do analfabetismo e de muitas carências, fornecendo tecnologia para alavancar o novo surto de prosperidade, na agricultura, na indústria e na educação.
A Educação é a força motriz do desenvolvimento, da prosperidade sustentável e da criatividade.

10. Hoje, apesar de muitas divergências e dificuldades, o futuro começa a sorrir para esses povos lusófonos. Já começa a brilhar, no horizonte, o sol de dias com mais paz e bem-estar.
Mas ainda há muitas manchas de ganância e de arrogância, filhos da ignorância, a serem debelados, por prática e atitudes positivas e agregadoras.
Todos os países Lusófonos, hoje, já têm muita gente bem preparada, na ciência e na tecnologia.
Muitos jovens foram enviados para Universidades de Portugal, do Brasil e de outros Países. Só a USP formou alguns milhares de pessoas que hoje sabem contribuir com eficiência para o desenvolvimento de seu país. Mas ainda precisa de muito mais gente preparada, dedicada e competente.
Hoje, todos os países lusófonos têm as próprias universidades. Mas às vezes faltam-lhes os grandes mestres capazes de aquecer as inteligências com a força da criatividade. Muitos ainda não despertaram para as forças humanistas e criativas da lusofonia, que vicejam naturalmente, onde o campo não é pasteurizado.
A cobiça e o déficit em saúde e educação ainda são problemas.
Bem hajam os construtores da paz, com justiça, prosperidade e bem-estar, revigorando as forças genuínas da lusofonia universalista.

IV – UMA VIAGEM PELA LUSOFONIA, NA ÁFRICA E ÁSIA

11. ANGOLA e MOÇAMBIQUE, países riquíssimos, em seu solo, e de grande território, começam a abrir novos caminhos para a economia e para a educação e bem-estar. Serão o novo Brasil, cada um a seu modo.
CABO VERDE é um país promissor. Há dezenas de anos tem analfabetismo zero. Isso faz do país um pólo universitário, como veremos.
GUINÉ BISSAU e SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, também vão se abrindo para o novo tempo, vencendo algumas dificuldades superáveis.
TIMOR LESTE, no Oriente, é um país em franco desenvolvimento, apesar de estar enfrentando a cobiça dos vizinhos, e divergências internas, pelo mesmo motivo.
PORTUGAL e o BRASIL ainda serão por algum tempo, os grandes baluartes da Lusofonia. Ou serão sempre o grande paradigma de uma Lusofonia forte e atuante.
Hoje, os países lusófonos da África estão atraindo grandes investimentos do Japão, da China, da Europa (Espanha, Portugal, etc.) e também do Brasil. Destacam-se Angola e Moçambique.

12. Precisamos ressaltar que a Lusofonia está presente e muito atuante em muitos outros países não lusófonos: Nos EUA, no Canadá, na Venezuela, e por todas as Américas e Caribe, na Europa, na Ásia, na África e na Oceania. A Pátria lusófona está assentada muito além dos PALOPs.
É um novo mundo, uma nova fronteira de desenvolvimento que vai se abrindo a passos largos.
Os países lusófonos já se preparam para ser um grande pólo de desenvolvimento, em escala mundial. Potencial não lhes falta. Faltam-lhes ainda muitas forças agregadoras e revitalizadoras, com mais confiança e solidariedade, e mais paz para tudo se agigantar e prosperar.

Acredito que está na hora de as Câmaras de Comércio dos países lusófonos se expandirem e fortalecerem. E, (por que não?), fundarem a Federação das Câmaras do Comércio dos Países Lusófonos e/ou a Federação das Câmaras de Comércio dos Países Lusófonos Africanos.
Tal Federação poderia estimular o desenvolvimento através de intercâmbio de ideias, facilitando o ordenamento de ações que a todos beneficiassem, alavancando o progresso, desses países, com vantagens para todos e para a humanidade. Quando um país se eleva, eleva o mundo.


V – TEXTOS COMPLEMENTARES
13. Para aprofundar os tópicos traçados acima, recomendo a leitura dos textos complementares que seguem, em seu endereço na Internet.

TC 1 - O Brasil na América do Sul
TC 2 - Fazer Política no Mundo Português e Luso-Brasileiro
TC 3 - O Grande Despertar da Língua Portuguesa no Mundo
TC 4 - Língua Portuguesa, a Língua da Globalização
TC 5  Projeto Globilíngua - Língua Portuguesa como Língua Internacional
TC 6 - Versatilidade e Simpatia - Alma da Língua Portuguesa
TC7 - Sonoridade, Força e Versatilidade da Língua Portuguesa

VI- OPORTUNIDADES NO MUNDO UNIVERSITÁRIO DA LUSOFONIA
            14. Trato a seguir das oportunidades de intercâmbio em nível de Graduação e pós-graduação dos alunos brasileiros, nas Universidades de Portugal e Países Lusófonos.
Devemos de início realçar que, através da Declaração de Bolonha, todos os Países da União Européia se responsabilizaram por fazer valer normas de qualidade comuns a todos os Países coligados.
Hoje vai se expandindo o costume de muitos alunos completarem graduação e pós-graduação no exterior, ou através de convênios entre universidades, válidos no Brasil e no estrangeiro.
O intercâmbio  universitário  pode trazer muitas vantagens  ao aluno e ao país.
Os alunos de países lusófonos podem usufruir, em Portugal, de diversas vantagens. Em algumas universidades de Portugal, há cotas para alunos de Países Lusófonos.
Aliás, na USP, em São Paulo, e também em outras universidades há também facilidades para matrícula de alunos de Países Africanos e da América do Sul. Buscar Informação no CCint-USP - (Doc. 5 e 6).
Em Portugal os interessados deverão procurar as instituições que têm convênio com o Projeto Erasmus – UE - (Doc 3) e o Programa Erasmus Mundus, para o programa de Graduação e Pós-Graduação (Doc. 4).
Ver também o Erasmus no Brasil (Doc 5).
Para conhecer os princípios básicos que norteia o Ensino Superior nos países da União Européia  - UE, leia: Declaração de Bolonha (Doc 18).

15. As principais Universidades de Portugal você pode consultá-las (Doc 1)
Ver também Universidades dos Países Lusófonos africanos e também do Timor Leste, onde o interessado pode fazer algum curso de Intercâmbio, para conhecer, in loco, as potencialidades do país (Doc2).

16. Para se informar mais sobre os projetos  intergovernamentais e particulares para a difusão da Língua Portuguesa como Língua Internacional. Leia:  DOC 10 e Doc 11.
Para conhecer o Instituto Camões e o Instituto Machado de Assis  (em formação) Lei Docs: 12 e 13.
Para conhecer o Projeto GlobiLíngua. Leia: Doc 14, Doc 15, Doc 16 e Doc 17.
Para conhecer algo sobre Literatura e Identidade Nacional dos Povos Lusófonos, Leia (DOC 9)

17. Para conhecer os grandes Diplomas Oficiais que regem as relações culturais Brasil – Portugal, analise os documentos a seguir relacionados:
DOC 7Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre Portugal e o Brasil, assinado em 22 de Abril de 2000.
DOC 8 Declaração Conjunta Portugal-Brasil – VIII Cimeira Luso-Brasileira – 2005 Relações bilaterais e Reconhecimento de Graus e Títulos Acadêmicos em Portugal e no Brasil.

Notas:
1.      Demos acima apenas uma pequena mostragem  de Docs que podem nos ajudar a prosseguir numa pesquisa ampla. O importante é consultar os documentos e normas que podem nos ajudar a buscar melhores caminhos.
2.      Os Documentos citados aqui, o Leitor  pode encontrá-los em:

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Saramago

SARAMAGO
Um Labutador ou um Provocador?
J. Jorge Peralta

Defendeste a pátria? Cumpriste o teu dever.
A Pátria foi ingrata?! Fez o que costuma fazer
.”
(P. Antônio Vieira)

            1.  Um Homem Paradoxal
O aguilhão de Saramago talvez nos faça falta. Poderemos não concordar com ele, em algumas de suas diatribes polêmicas, no entanto, não podemos negar sua coerência de homem livre. Por outro lado, ele carregou consigo um grande mérito: Suas posições políticas, como cidadão, não interferiram em sua obra: não fez literatura partidária.
Politicamente, no entanto, teve atitudes, para muitos, abomináveis. Ninguém é perfeito... Até dos seus erros podemos tirar ensinamento.
Saramago com sua vida e obra, com seus defeitos e virtudes, estará no Panteão da Lusofonia, quer queiramos quer não.
No Panteão da Lusofonia não cabem ódios nem rancores. Saramago não colocou ódios ou rancores na sua obra. O tempo o absolverá de seus erros políticos. Restará sua obra. Esta o elevará.
Acredito que está na hora de Portugal redescobrir Saramago, sem preconceitos, como um de seus filhos amados, apesar dos pesares.

2. Saramago foi um homem e um artista que teve como seu grande mérito, o seu esforço por acordar a sociedade de certa letargia: provocou as pessoas para que refletissem, em busca da consciência do ser. A rejeição que ele teve faz parte dessa tomada de consciência...
A incredulidade que ele tanto propagava, acredito que faz parte de seu processo de provocação à sociedade para que sua fé não seja em decorrência de uma tradição formal, da inércia e de uma vontade de ser igual e de não destoar do meio em que convive.
Talvez uma afronta, subconsciente, ao “pensamento único” e “inquestionável” que move ações e atitudes, mas não move corações, convicções e sentimentos coerentes, e conscientes.
Não move o espírito.
Suas polêmicas acordaram muita gente. Ribombaram como trombetas...
Mas as pessoas não gostam de ser “perturbadas”, como os homens não gostam de ir ao médico.

Mesmo quando acusou Deus e todas as religiões, por todos os males e misérias do mundo, por todas as guerras e maledicências, provocando um grande terremoto de agressões e contestações e constrangimentos, acredito que foi mais um ato provocativo de bom resultado. Fez as pessoas pensarem e reagirem. Despertou consciências.
Acordou os que estavam sonolentos, “estagnados”, no átrio das igrejas.
Ajudou a curar a cegueira de muitos...
Até o seu último romance, “CAIM”, com todas as suas inconsistências, foi uma obra que, socialmente, deixou um saldo positivo. Provocou uma grande corrida à Bíblia, para conferir os textos originais...

3. Sejamos Críticos, mas não Injustos
Podemos e devemos ser críticos, mas não injustos. Não podemos demonizar as pessoas.
Podemos não concordar em tudo o que Saramago agitou, mas não podemos deixar de reconhecer o valor de sua lealdade a princípios, até quando abala alguns dogmas da Igreja. Até quando venerou o “bezerro de ouro” do poder despótico e deletério de seu país, que nos causa repugnância.
Naturalmente podemos discordar de muitas de suas posições, mas não podemos deixar de dar valor à sua bela história humana.
Tanto política como literariamente, Saramago foi um homem coerente. Nunca temeu perder leitores com suas atitudes. Isto ninguém pode negar. Foi um homem de coragem. Ao contrário de muitos que o criticaram...
Saramago foi um homem simples. Um homem dedicado à sua obra.

4. Vai-se o homem, fica a obra. Devemos perdoar-lhe (?!) alguns de seus eventuais desvios, mas não podemos de deixar de apreciar o difícil percurso, seguido por um homem humilde de nascimento, que conseguiu subir todos os degraus da fama e encantar milhões de pessoas, com mérito e qualidade. Saiu do anonimato, para se projetar na história, como um vencedor que, com sua obra literária, deixou o mundo mais belo.
Acredito que não vendeu sua alma ao diabo... Se vendeu, recuperou-a.

Já vi pessoas lendo Saramago nos lugares mais inesperados, como em praias do Brasil, em banco de praça e nos metrôs de Lisboa... etc, etc.
Foi um grande escultor da frase e um genial contador de histórias.
Diz uma grande crítica literária brasileira:
Com ele, a Língua Portuguesa readquiriu, ao mesmo tempo, a majestade de um Vieira, o humor de um Eça de Queirós e a beleza poética de Pessoa prosador” (Leyla Perrone-Moisés).
Chico Buarque fala de Saramago como “um ser humano admirável, um escritor imenso, um zelador apaixonado da Língua Portuguesa”.

Sei que estas ideias são uma reviravolta naquilo que muitos pensam em Portugal sobre Saramago.
Precisamos repensar sempre nossos conceitos, quando surgem novas luzes. Não nos fechemos à luz, como as ostras.

5. Saramago no Brasil
José Saramago tinha profunda estima pelo Brasil, que muito admirava.
No Brasil tinha e tem muitos milhares, talvez milhões de admiradores. Aqui veio muitas vezes. Sentiu o coração do Brasil palpitar no ritmo e com a força do coração português. Era e é o autor mais vendido da etiqueta literatura estrangeira. Aqui falou sempre bem de Portugal.
Do Brasil dizia:
Somos gente da mesma família,
de uma mesma língua,
de uma mesma cultura que é, embora diferente, a mesma”.
Para ele, o Brasil e Portugal estavam fadados a viverem unidos.
Saramago sempre se sentiu muito bem, entre os brasileiros, que retribuíam com grande carinho. O Brasil é um novo Mundo.
No Brasil encontrou o céu em vida. Foi muito amado, aqui. Porque ele era muito bom. Mas nem todos souberam ver o que ele nos oferecia...
Em Portugal Saramago foi muito antipático. Isto é questão circunstancial; não diminui o valor de sua obra e de sua vida.
Precisamos apreciá-lo com certa objetividade, desapaixonadamente, para não sermos atropelados pela história. Saibamos que a realidade tem muitos ângulos, e não só um.

6.  Saramago vai ao Paraíso
Até Deus Pai, lá do Céu, quando Saramago chegou, foi recepcioná-lo à porta, junto com São Pedro, o homem das chaves.
Deu-lhe as boas vindas, com um grande abraço.  E ele encabulado... sem dizer nada...                                    
Tinha aqui na terra, falado muito mal de Deus e do seu Cristo! O Pai logo atalhou: filho, eu ausculto os corações... Quando falavas mal de mim, criticavas o que eu não era e não a mim. Criticavas porque amavas o que eu sou. Eu sou justo e generoso. Sou a Sabedoria.
Muito do que fizeste, às vezes por caminhos tortuosos, fez as pessoas pensarem e acertarem suas vidas. Tiraste muita gente da monotonia e da inércia.
As pessoas te criticavam mordazmente e com razão; mas fizeste-as pensar. Já te deram a pena que mereceste.
Vem comigo. Também aqui terás por missão provocar, em todos, um sorriso largo, com teu humor e teus paradoxos. Precisamos inovar sempre... Precisamos despachar mais sinais de esperança para teus irmãos, lá na terra de onde vens.

            7. O Grande Legado de Saramago
A vida e a obra de Saramago, o segundo Prêmio Nobel da Língua Portuguesa, têm algo de monumental que apela à nossa consideração.
[Nosso primeiro Prêmio Nobel foi o Médico, Dr. Egas Moniz, (1949). Um grande  homem.]
Quaisquer que sejam as nossas apreciações, Saramago é um imortal, em dimensões de literatura universal.
Saramago saiu da vida e entrou na história.
Na história ele continua vivo, em outra dimensão. Ninguém conseguirá tirar-lhe o que lhe pertence. Os méritos são dele.
Seus críticos vão e ele fica.

Agora cabe a nós fazermos a nossa lição de casa, sem preconceitos e sem simplismos.
Compete a cada um de nós detectar onde está os melhores tesouros que nos legou.
Se soubermos olhar, apesar dos percalços, o saldo é muito positivo. Merece o nosso apreço e a nossa consideração.
A posteridade, apagados os erros de percurso, saberá lhe fazer justiça, enaltecendo a sua imagem.

Não podemos repetir o que o país tradicionalmente fez com as pessoas que mais se destacavam no seu povo. Estas, de praxe, são renegadas por seus contemporâneos. O P. Antônio Vieira, um dos maiores ou talvez o maior sábio do século XVII denunciou este costume execrável, de que ele quase foi vítima.
É de Vieira esta frase constrangedora:
Defendeste a pátria?
Cumpriste o teu dever.
A Pátria foi ingrata?!
Fez o que costuma fazer.”
Lembremo-nos de que Camões, se não fosse a dedicação de seu escravo, teria morrido de fome. E que Pessoa também foi rejeitado por muitos, no seu tempo. Vieira, se não fosse tão sagaz, teria sido queimado pela Inquisição, e foi uma das maiores inteligências da História de Portugal e do Brasil, de todos os tempos.
Aguardemos o que o futuro dirá de Saramago. Ele ainda está muito vivo. Como estará daqui a 50 anos? Se ele merecer a glória, glória terá.

Nota: As fotos de José Saramago foram adaptadas do Jornal “Folha de São Paulo”.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Acordo Ortográfico e os Velhos do Restelo

A NOVA ORTOGRAFIA
E OS VELHOS DO RESTELO
J.Jorge Peralta

I – UM DEBATE VITAL E OPORTUNO

1. Há quase vinte meses observo os debates que se travam nas páginas  da Imprensa, de Internet e em outros veículos de comunicação, sobre o NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO da Língua Portuguesa.
Considero o debate, sério e esclarecido, sempre saudável. Não é apenas pelo respeito à liberdade de opinião. É que o fato de debater, expondo opiniões, eventualmente antagônicas, contribui para o esclarecimento da questão em pauta, e populariza o assunto que a todos envolve. Participar é compartilhar idéias.
A oposição responsável sempre pode contribuir para que, o legislador aja com mais cuidado, e se evitem atos arbitrários de tirania ou se atenda a interesses escusos. Mas não se esqueça que o tirano pode ser o opositor...

2. A favor ou contra o ACORDO, sempre surgem alguns argumentos emotivos, certamente bem intencionados, mas sem suporte científico. Alguns apenas lutam pela inércia, pelo imobilismo, pelo deixa como está. Rejeitam toda a inovação, por mais benéfica que seja. Temos preguiça de mudar. A mudança nos incomoda...
Os que rejeitam a Novo Acordo, estão mais para velhos do Restelo do que para Novos Descobridores. (Com todo o respeito ao Velho do Restelo)
Às vezes, ofendem-se pessoas ou instituições, em atitudes levianas insustentáveis.
Há os que são contra, até políticos, como forma de chamarem a atenção sobre si, com interesses eleitoreiros. Outros são contra, por falta de informações ou por informações viciadas, ou simplesmente são contra, com razões válidas, porque nada é perfeito.
Alguns são contra o Acordo, sem perceberem o prejuízo que podem causar à nação... Estamos na fase de implantação e não de contestação. Contestação hoje é quase uma traição. É uma injúria à Democracia.
São posições insustentáveis, num mundo dinâmico, globalizado,  onde a comunicação escrita  precisa de mais versatilidade e onde os países irmãos precisam se entender, sem barreiras inúteis, geralmente prejudiciais, como é o caso de dupla norma ortográfica, se prevalecer, como alguns querem.

3. Não queremos polemizar. Queremos apenas esclarecer, na medida do possível.  Cada um pense como bem entender e ouça quem quiser. Alguns não querem saber, querem apenas um espaço para se opor.
Sou de opinião que não fica bem, alguns intelectuais escreverem frases tão vazias, e argumentos sem objeto. São frases quiméricas; meras fantasias. Dão-se tiro em sombras, ou em tigres de papel. A maioria dos argumentos não procede; são enganosos, falaciosos.
Toda a ação humana é questão de opção: optamos pelas deliberações que consideramos mais adequadas, dentro de certas perspectivas. Muitos são contra por inadmissível preconceito ou por desinformação.
O ACORDO ORTOGRÁFICO é uma questão muito séria. É vital para a expansão da Língua Portuguesa e para intercâmbio Internacional.

II- A LONGA E DURA CAMINHADA DO ACORDO

O Acordo Ortográfico em questão, como qualquer Acordo, supõe que as partes envolvidas acomodem suas posições, em favor de um bem maior para todos. Decide-se quando todos estiverem de acordo. Todos sedem algo, em benefício da harmonia e do resultado.
No caso do ACORDO ORTOGRÁFICO, o espaço específico para assumir posições são as ACADEMIAS NACIONAIS DE CIÊNCIAS E LETRAS.
O presente ACORDO teve um longo percurso de debates, por mais de 15 anos, onde todos puderam se manifestar, até chegar ao texto final. Demorou muitos anos. Resolvida a questão, no nível científico e social, passou pelos Congressos Nacionais/AR, e foi promulgado pelo representante legal da
nação, o Presidente da República. Enfim, um processo demorado mas democrático.
Esta é uma questão supra-partidária. É de interesse geral da nação.
Diz-se que o Acordo ainda tem defeitos! Não há novidade nisto. Nenhum acordo é perfeito. Acredito que este é o Acordo melhor possível a que se pôde  chegar, nas circunstâncias de nossa conjuntura histórica.


III- CELEBRANDO O SUCESSO DO ACORDO

1. É tempo de comemorar. É justo. Finalmente a ortografia da Língua Portuguesa chegou ao Século XXI.
Vamos celebrar a grande proeza de nossos cientistas da linguagem, pelo resultado a que chegaram, e de nossos políticos por terem reconhecido o valor do texto do Acordo e por terem conseguido reconhecer a importância sócio-política e cultural para os oito (8) povos lusófonos e para os milhões de lusófonos espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Enfim, alcançamos a unidade ortográfica respeitando a diversidade linguística.
Um objetivo há muitos anos aguardado, foi alcançado. Merece uma solene comemoração.
 Efetivamente o Novo Acordo Ortográfico tem dimensões muito mais amplas do que o país de cada um: tem dimensões globais! Não podemos então, ficar massageando o nosso umbigo, desdenhando dos demais e das futuras gerações.
Quem não comemora, bom lusófono não é, diríamos provocativamente (!!)

2. Não esqueçamos nunca que a Língua Portuguesa  não é patrimônio pessoal. É um patrimônio de todos os lusodescendentes, um rico patrimônio coletivo da grande e universal Pátria Lusófona, do passado, do presente  e do futuro.
Nossas ações e reações precisam se enquadradas nestas dimensões, sob penas de nos perdermos no vazio, sem eco e sem ouvintes.
O Novo Acordo é uma questão de alta relevância para os países lusófonos. Então vamos aplaudi-lo. Com ressalvas, se for o caso, mas aplaudindo.
O Acordo Ortográfico é assunto que traz alegria. No entanto, outros  preferem o confronto com verbal pancadaria.

3. A Língua Portuguesa poderá ter, daqui por 25 anos, aproximadamente 400 milhões de falantes. Precisamos pensar grande, na grande Pátria Lusófona, e não nos perder em questiúnculas domésticas, que amanhã nada significarão.
Precisamos, sim, preservar o espírito da lusofonia, o modo de ser, no mundo, da lusofonia. Essa deve ser nossa grande preocupação. Essa é a nossa identidade vital. A este assunto sim devemos dedicar nossas forças.
O Patrimônio que herdamos dos nossos antepassados devemos saber transmiti-lo às gerações futuras. Não podemos deixar a nossa cultura se pasteurizar numa massa amorfo universal de uma sociedade consumista. Precisamos saber nos orgulhar de nossa cultura e do nosso povo.
Quem não é organizado é tutelado. Então vamos nos preparar para os novos tempos, sem deixar o flanco da lusofonia descoberto à entrada dos “saqueadores”, sempre à espreita.
Os saqueadores estão sempre em ação, até como “agente duplo”.
Precisamos saber lutar por nossos valores, em vez de nos perder em questões já superadas.


IV- A FORÇA DA RAZÃO VENCE A FORÇA DA DESINFORMAÇÃO

1. A oposição que vem se articulando em Portugal, contra a implantação do Acordo Ortográfico, é, para mim, causa de alguma apreensão, pois se baseia, claramente, em reiteradas atitudes preconceituosas, insustentáveis e indignas das pessoas que as repetem, por falta de informações adequadas.
Não seria o primeiro Acordo a ser engavetado pelo preconceito... produzindo efeitos contrários aos esperados e danosos à nação.
A oposição, em si, é sempre sadia, se for de base científica, socialmente válida e responsável e oportuna, respeitando as regras democráticas e o bem da nação.
As pessoas sempre reagem contra o desconhecido, que altera sua rotina sem conseguir vislumbrar vantagens reais. Então que procurem se esclarecer. Os gestores de opinião devem se informar bem antes de opinar.
O Novo Acordo Ortográfico não é propriamente uma questão popular mas de nível de estadistas.

2. Permitam-me relatar dois exemplos paradigmáticos conhecidos:
2.1) Em São Paulo foi implantada e entrou em vigor, em Agosto/09, a lei ANTI-FUMO. Houve uma reação estrondosa, em todos os meios de comunicação social. Hoje, as estatísticas demonstram que mais de 80% da sociedade aplaude a nova lei. Logo, serão mais de 90% aprovando.
Democraticamente, 10 a 20% sempre serão contra, sejam quais forem os motivos. Há sempre motivos.

Entretanto a LEI ANTI-FUMO é uma medida de saneamento altamente benéfica para a saúde da população. Diz-se: há outras fontes poluidoras mais graves, como a qualidade da gasolina que queima nos motores de nossos automóveis... Todos sabemos disso. Pois que se resolva mais este problema, sem esquecer a questão em pauta.

2.2) No início do Século XX, o nosso benemérito cientista, Oswaldo Cruz, médico sanitarista, dirigiu a campanha de erradicação da febre amarela e da varíola, no Rio de Janeiro, e decretou a vacinação obrigatória de toda a população, provocando rumorosa rebelião do povo e da Escola Militar, contra o que consideraram uma invasão da vida doméstica e uma vacinação forçada. Ficou conhecida como REVOLTA DA VACINA. Oswaldo Cruz foi constrangido, humilhado...
A campanha não retrocedeu. Prosseguiu. Foi vitoriosa e deu o resultado esperado. Todos festejaram, agradecidos. Oswaldo Cruz, de repressor do povo virou herói nacional, premiado no Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim, em 1907.
Oswaldo Cruz  teve êxito porque  foi competente e persistente e teve o apoio firme de políticos, de porte de Estadistas. Souberam pensar mais na saúde da população do que na próxima eleição.

3. Os exemplos se repetem na história, para demonstrar que os melhores projetos sempre terão a oposição, até daqueles a quem mais vêm beneficiar.
Voltemos à questão da reação contra a implantação do ACORDO ORTOGRÁFICO.
Para implantar leis com forte reação oposta e articulada, é preciso coragem, competência e persistência e o apoio firme de homens que, ao menos nessa questão, assumam porte de estadista, pensando mais no bem das próximas gerações, do que nos bens das próximas eleições. Portugal terá esses homens? Que façam um esforço, ao menos nesta questão candente.

V- POLÊMICA NA “INTERNET”

1. Disse atrás que se nota, em alguns argumentos, reiteradas atitudes de preconceito insustentáveis, e fruto de lastimável desinformação.

Cito apenas um fato, entre inúmeros que já presenciei, na Imprensa e na Internet.

No dia 19 deste mês, foi publicado um texto de minha autoria, em um blogue (Nova Águia) sob o tema: “Joaquim Nabuco, outro gigante da Lusofonia”. Um leitor aproveitou o gancho para malhar a Academia Brasileira e Letras e o ACORDO ORTOGRÁFICO.
A intervenção do leitor já teve resposta fraternal, nos termos adequados, de dois professores, com as explicações suficientes do referido contestador.

2. Resta-me dizer algumas palavras a crítica aos “velhinhos do Restelo” da Academia Brasileira de Letras. Esta agressão genérica à Academia, não é justa.
Esta é uma instituição com a qual podemos discordar, como de tudo que é humano, mas não podemos deixar de reconhecer que lá se abrigam pessoas de alto mérito. As pessoas que fizeram parte da comissão de redação do Acordo são pessoas que dedicaram suas vidas à Língua Portuguesa. Entre essas destacamos os profs. Antonio Houaiss e Evanildo Bechara que têm uma gama respeitável de trabalhos sobre nossa língua comum. Só quem não conhece o trabalho destes homens pode atirar-lhes pedras.
Dizer que querem nos impor a forma brasileira de escrever é uma acusação insensata e gratuita.
A partir da década  de 40 a nossa Norma Ortográfica ficou para trás e agora ficamos juntos.
O Acordo foi elaborado e aprovado pelas duas Academias: de Lisboa e do Rio. Foram aprovadas nos dois Parlamentos (1991 e 1995). Foram promulgadas pelos dois presidentes. Que mais queremos? Passaremos a vida chorando como carpideiras e lastimando, chamando de desastre, de desacordo?!
Ah! Esse cacoete insustentável, que mina alguns das novas gerações, precisa ser superado...
Até quando Portugal suportará o mau humor de alguns patrícios?
De que lado do Atlântico estão, afinal os velhinhos do Restelo?
Afinal, o desastre é se os portugueses conseguirem rejeitar a implantação do Acordo, o que acho impossível, estratégica e moralmente.

3. Senhores, os preconceitos contra o português do Brasil são absurdos.
Dou-lhes meu testemunho de quem vive aqui há 53 anos, é da Área de Linguística  e Semiótica pela mais produtiva Universidade do mundo Lusófono, a USP. Minha tese de Doutorado foi sobre a múltipla linguagem de Fernando Pessoa. Sou professor aposentado da mesma USP. Por outro lado, mantenho relações permanentes em Portugal, onde vou uma ou duas vezes por ano.

CONCLUSÃO:

1. Meu testemunho é leal; Esse Acordo Ortográfico é o melhor possível Não é perfeito, lógico. Nem podia ser, pois teve de contentar gregos e troianos. É sempre assim.
Digo-lhes que considero uma afronta quase infantil, ao menos é preconceituosa, em relação ao Brasil, as acusações mil vezes repetidas.
Não fica bem para os portugueses essa disputa descabida.
O Brasil vai ser sempre BRASIL, ao menos em potencial. Um País de 195 milhões de habitantes, com muita gente boa.

2. Com estes termos esclareço que não concordo com o  artigo referido na crítica citada acima: “O Conceito da Língua Portuguesa no Brasil”, de autor do Rio de Janeiro. Desculpem mas é todo ele alicerçado em preconceitos que não são admissíveis. Muita emoção, sem base científica. É muita fumaça sem fogo nem calor. Não podemos fazer isto. Não fica bem. Falar genericamente de “presunção de pseudos-intelectuais” é descabido. É presunção. Desmerece as pessoas sérias.
Prometo voltar ao assunto ampliando o que acabo de dizer sobre o artigo referido.

Não quero entrar em polêmicas, mas em vez da frase citada: “Deus salve a Língua Portuguesa”, eu diria: Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.
Desculpe, mas este é efetivamente um assunto para especialistas. Não quer dizer que outros não possam se manifestar. Democraticamente devemos ser responsáveis, atendendo à justiça e ao bem-comum.

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