segunda-feira, 29 de março de 2010

O Grande Despertar da Língua Portuguesa no Mundo



O GRANDE DESPERTAR
DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
Como Língua Internacional

I
LÍNGUA DE CULTURA E DE  NEGÓCIOS

1. O Século XXI é o século da competitividade, em todos os campos, desde o comercial e industrial, até o mundo do saber, entrando pelo mundo muito específico das Línguas Naturais.
É que as pessoas, hoje, além da língua materna, precisam dominar uma segunda língua, para poderem garantir o seu espaço, no mundo globalizado, no mundo do trabalho e no acesso à cultura.
Por outro lado, os países descobriram que Língua é Poder, é um patrimônio cultural que pode fazer a riqueza da nação.  É também um patrimônio econômico. Isto dá origem a mais progresso, com mais disputas e mais emulação dos que têm auto-estima.

Nós temos um grande produto para oferecer ao Mundo: a versátil e sonora Língua Portuguesa, da qual Miguel de Cervantes declarou enfático: “é a língua mais sonora que existe no mundo”.
Unamuno, grande pensador espanhol (basco), afirmou que a Língua Portuguesa “tem vozes que nos acariciam  os ouvidos e a imaginação”.
Com 260 milhões de falantes, a Língua Portuguesa é hoje a terceira maior potência linguística do Ocidente.

2. Há mais de quatro décadas, os americanos e os ingleses perceberam o valor econômico da difusão de sua língua pelo mundo, para veicular seus produtos e negócios .
Investiram alto e espalharam escolas por toda a parte, por todos os países, de modo especial, nos países latinos. Foi a senha para vender toda a espécie de produtos, inclusive e talvez principalmente, produtos cultu­rais: livros, filmes, discos, etc, etc.
O inglês e a cultura americana entraram pelo então 3º mundo, como uma avalanche.
Abriram um imenso mercado de trabalho nas escolas, nas universidades, no mundo.
Os portugueses começaram primeiro, no século XV, a espalhar sua Língua e Cultura pelo mundo, também como um veículo econômico e social. Mas estacionaram no século XVII.


3. Há pouco mais de duas décadas foi a vez dos espanhóis despertarem para esse mercado promissor.
Todos sabem que dominar uma segunda língua, agrega valores, para a pessoa e para o país titular dessa segunda língua, que se expande, expandindo negócios.

4. Finalmente chegou a vez de a Língua Portuguesa assumir seu status natural de Língua Interna­cional. Aliás, a Língua Portuguesa foi a primeira que desempenhou, com galhardia, a função de Língua Interna­cional, no século XV, prolongando-se até o século XVII, em ascensão. Ainda hoje mantém esse status, mas um tanto enfraquecido, sem expansões, em novos territórios. Após o início da Guerra Colonial, entraram em depressão todos os países lusófonos.
No “25 de Abril”, manteve-se a depressão.
Os problemas políticos, aliados a muita infâmia, foram os grandes algozes da Língua e da Cultura de Língua Portuguesa.
            De poucos anos para cá, tudo está mudando. Os lusófonos estão se articulando ao menos em ideias.
Ensaiam-se agora seus grandes voos internacionais, a partir principalmente do Brasil e de Portugal, com Angola e Moçambique por perto. Logo vêm Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné e Timor Leste.

5. Hoje a situação já é outra, bem mais promissora. Grandes expectativas vão se abrindo. Por todo o globo, (Índia, Japão, China, etc, etc), começam a ser implantados e a ser muito procurados cursos de Língua Portuguesa, embora, ainda, com precário apoio oficial..
Há uma grande carência de professores de Português, efetivamente preparados.
Grandes “mercados” estão se abrindo, nos países lusófonos, no Brasil, em Angola, em Moçambique, etc, etc.
O Brasil e Portugal, juntos, com a participação de todas as nações lusófonas, precisam traçar a grande Política do Idioma, para ser implantada imediata­mente. Não podemos perder mais uma vez, o trem da história, ou o cavalo que passa arreado.
            O Projeto GlobiLíngua (clique) propõe-se, como missão, dar suporte a expansão da Língua Portuguesa.

II
A HORA E A VEZ
DA LÍNGUA PORTUGUESA

6. A Língua Portuguesa, embora com muito atraso, está em vésperas de se tornar língua oficial da ONU.
Na União Africana, a Língua Portuguesa já é utilizada regularmente. O que falta muitas vezes são tra­dutores. O IILP já providencia a formação de tradutores.

 7. O inglês já é a principal segunda língua do mundo. No entanto,  muitos não mais se contentam com uma só segunda língua e buscam outras, como o português. São muitos. Não podemos frustrá-los. São em geral, interesses sócio-econômicos, mais do que culturais. São sempre interesses legítimos, num mundo multipolar.
A localização geográfica dos países de Língua Portuguesa, em todos os continentes, é uma grande vanta­gem: um grande trunfo.
Na busca da segunda língua de comunicação internacional, a Língua Portuguesa desponta como objeto de desejo, para milhões de pessoas, pela sua versatilidade e por sua beleza arquitetônica, sonora e expressi­va, e por já estar, naturalmente, em todos os cantos do globo.
Só no Senegal, há 15 mil pessoas aprendendo a Língua Portuguesa. Há aí muitos milhares de falantes natos de português.
Não podemos pensar na difusão da Língua Portuguesa, apenas da perspectiva humanística ou afetiva. Temos de pensá-la como força de intercâmbio cultural e de comunicação e como língua de negócios que é o que mais move o nosso tempo. No entanto, temos muito mais para oferecer.
            Os países lusófonos têm grandes atrativos turísticos e culturais a oferecer ao mundo.

8. O motivo da busca do português é também econômico. Neste sentido “o português está a tornar-se “uma mais-valia economica”, diz o Secretário Executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira.
Diz ele que a Língua Portuguesa hoje “não é só uma questão de nostalgia, de afeto”. Traz “ganhos eco­nômicos efetivos”.
E acrescenta: é importante a Língua Portuguesa, na Lusofonia, pois “valemos muito mais, quando fala­mos a uma só voz”. (Diário de Notícias fev. 2010).
Não nos esqueçamos  que os espanhóis estão assediando nossos espaços estratégicos, inclusive o Brasil e Angola, para suplantar a Língua Portuguesa nos nossos espaços... Se nós lusófonos titubearmos eles colocam-nos à margem e passam por cima. Lembremo-nos  de que negócios para muitos não respeitam éticas. Quem não prestar atenção ao inimigo (concorrente) é atropelado.

9. Esta é, pois, a hora e a vez de a Língua Portuguesa se assumir efetivamente, como língua de inter­câmbio entre todas as nações, em nível cultural e econômico. Os mercados dos povos de Língua Portuguesa vão assumindo seu papel, no mundo globalizado; vão se destacando e vão despertando o interesse do mundo inteiro.
É muito interessante o presidente do Brasil falar sempre em português. É assim que deve ser.

10. O Brasil é um caso típico. O mundo olha o Brasil, como uma das mais promissoras economias do mundo. Vê aí um país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de terras boas e produtivas, e 195 milhões de habitantes. O Brasil tem uma economia pujante e promissora. É um mercado fantástico, em grande expansão.
Com muitas carências, é verdade, mas também com muitas riquezas. Pode superara as carências, com uma educação melhor e com menos corrupção.
Tudo isso agrega grandes valores à Língua Portuguesa.
Mais importante é o Brasil, um país continente, ser um país de uma só língua, de Norte a Sul e de Leste a Oeste do país.
Malgrado esta situação otimista e promissora, as nossas Agências e Empresas especializadas ainda não despertaram para este mercado, para valer. Faltam Conselheiros e faltam Consultores na área.

11. Acabo de visitar o SALÃO DO ESTUDANTE, que se realiza anualmente em São Paulo.
Nesse Salão se oferecem cursos de língua estrangeira e cultura. Lá estavam, com destaque, empresas (es­colas) do Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Espanha. Havia empresas também do Japão, da China, da Irlan­da.
Esperava encontrar lá o Instituto Camões, o Instituto Machado de Assis, e até a CPLP, para dizer aos estudantes o que em Portugal e no Brasil se faz para ensinar o Português, como segunda língua, pelo mundo afora. ( O Instituto Cervantes estava lá).
Portugal e o Brasil precisam divulgar sua consciência da importância da Língua Portuguesa, no mundo globalizado. É uma grande marca, um grande marco e uma grande Bandeira...

12. Sugerimos que o Instituto Camões participe ativamente desses Encontros, de alta afluência de visi­tantes, para ir despertando a sociedade para o papel da Língua Portuguesa no mundo, e para a vocação interna­cional de nossa língua, também como língua de negócios, além de língua de cultura.
Não podemos deixar de conhecer e de exaltar a Língua Portuguesa, como versátil instrumento de intercâmbio e coesão social.

            Obs. Sobre a batalha dos espanhóis para atropelar a lusofonia e, de preferência, destruí-la, leia: www.globilingua.blogspot.com
Nota: Texto patrocinado pelo Instituto Globilíngua
Ir para página inicial (clique)                                   
São Paulo, 07 de março de 2010
Prof. Dr. José Jorge Peralta

sexta-feira, 26 de março de 2010

VERSATILIDADE 1

VERSATILIDADE E SIMPATIA
ALMA  DA LÍNGUA PORTUGUESA

A Língua portuguesa desperta  razões,
sentimentos e emoções tal qual os humanos que a falam
.          

I
A PALAVRA COMO CATALIZADOR DE IDEIAS

1. Um dos conceitos básicos da linguística, como ciência da linguagem humana, é o caráter arbitrário e convencional do signo – unidade significativa. Este princípio se aplica plenamente à unidade menor do signo, o fonema - unidade distintiva.
A opinião de certos poetas ou críticos que atribuíram expressividade às vogais e consoantes, não tem suporte científico. Isto não lhe reduz o valor. As línguas têm razões  que a razão desconhece.
É sabido que os fatos que envolvem os humanos, em sua produção, principalmente na linguagem, têm 25% de dimensão científica e 75% de outras dimensões, tais como a emotiva, afetiva, evocativa, histórica, etc.
O processo humano de comunicação, de expressão e de criação de ideias é extremamente complexo.


2. Alguns atribuem cores às vogais e sensações às palavras
Assim, dizer que:
o /A/ é branco, tranqüilo;
o /E/ é amarelo, incerto
o /I/ é azul,  alegre, versátil;
o /O/ é verde, conciliador;
o /U/ é escuro, soturno.
           
Numa outra apreensão, disse A. Feliciano de Castilho: “ o A é brilhante e arrojado; o E é tênue e incerto; o I é subtil e triste; o O é forte; o U é carrancudo e turvo. Se ousássemos não temer o ridículo, compararíamos  o tom do A à harpa; o tom do E ao machete; o tom do I ao pífaro; o tom do O à trompa e o do U ao zabumba.
É uma questão subjetiva, não comprovada cientificamente. Pode ser sentida emocionalmente. Neste caso é uma questão pertinente. 
É que a cientificidade não é o único critério de validade de algo, no mundo dos humanos. Se quiséssemos atribuir uma cor dominante à Língua Portuguesa, acredito  que a cor mais  adequada seria  a azul. Mas poderia ser outra. É questão de origem subjetiva. A não ser que  fosse resultado de alguma convenção.

            3. Os fonemas e palavras, podem ser analisados na perspectiva da motivação.
Os efeitos da aliteração podem provocar determinadas sensações enfatizantes, que agem no psiquismo de quem domina tais códigos. Também age no inconsciente.
A partir da associação de um fonema a determinada ideia ou imagens (num signo arbitrário), a sua repetição num determinado ritmo, na frase, pode trazer subjacente, determinadas ideias que vão se multiplicando, como uma orquestra, trazendo sensações para além dos signos. O processo de significação do texto é algo muito complexo. Envolve muitas dimensões, linguísticas e de outros códigos.
Algumas vezes a palavra age e reage como um eficiente catalizador de ideias e sentimentos.
A língua é aberta a qualquer espécie de análise desde que seja válida científica e/ou humanisticamente e desde que seja pertinente ao texto. O efeito dos sons é uma manifestação palinguística.

4. Há canções populares cujas palavras só têm sentido pelas sensações que despertam, junto com a musicalidade.  Os signos agem e reagem a partir de diferentes códigos: linguístico, pictórico, rítmico, sonoro, etc.
Por isso se entende a enfática e profunda afirmação de UNAMUNO:

- Há, na Língua Portuguesa, para o falante do castelhano, algo juvenil. “Tem vozes que nos acariciam os ouvidos e a imaginação: saudade, soturno, luar, nevoeiro, mágoa, noivado..., vozes cuja alma é intraduzível”(pag. 22)
São as sensações sinestésicas que a linguagem produz.
Unamuno, um cientista e um homem de alma e de espírito atento à vida, detêm-se muito nestas sensações, para além do signo, ao analisar a Língua Portuguesa. Unamuno tinha  profunda admiração, respeito e veneração pelo nosso idioma.

O nosso poeta, Cruz e Sousa, através de aliterações, com a insistência no fonema /v/, produziu no leitor a sensação de vozes:
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias de violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos,vivas, vãs,vulcanizadas”

O Poeta português, Eugênio de Castro, (na obra – Oaristos), produziu a clara sensação  do vento fazendo ondear o trigal:


Na messe, que enlourece, estremece a quermesse... 
O sol, o celestial girassol, esmorece... 
E as cantilenas de serenos sons amenos 
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

As estrelas em seus halos 
Brilham com brilhos sinistros... 
Cornamusas e crotalos, 
Cítolas, cítaras, sistros, 
Soam suaves, sonolentos, 
Sonolentos e suaves, 
Em suaves, 
Suaves, lentos lamentos 
De acentos 
Graves, 
Suaves.

            Camões escreveu poema cujas aliterações produzem a sensação da passagem de cavalos a trote.

5. A reiteração de certas terminações, rimas e aliterações, também são claramente motivados, visando ressaltar o conceito emitido, para impressionar o ouvinte.
Os provérbios populares utilizam esse recurso paralinguístico:
“Duro com duro não faz bom muro”
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”
“Cada macaco no seu galho”
Nestes casos a utilização dos fonemas é condicionada pela associação sinestésica que produzem

VERSATILIDADE 2

II
EFEITO DA ACÚSTICA  DAS PALAVRAS

6. Os vocábulos da língua, além do significado, são analisados na sua constituição acústica, como as notas musicais. A fonética acústica é-nos de muita utilidade neste tópico de análise, principalmente para entender os mecanismos de composição dos sons.
Tomando como base, sobretudo as vogais, sabemos que os fonemas são marcados pela: duração, altura, intensidade e timbre, na linguagem falada.
a) O TIMBRE - resulta da combinação do fundamental com o harmônico.
b) A ALTURA - depende do número de vibrações por segundo, medida por períodos.
c) A INTENSIDADE - resulta do maior ou menor afastamento do vibrador em relação a seu ponto de repouso.
d) A DURAÇÃO - exprime o tempo em que o corpo se manteve vibrando.

As vogais são:
- agudas ou graves, quanto à altura;
- fortes ou fracas, quanto à intensidade;
- longas ou breves, quanto à duração.

7. Os bons poetas e prosadores, como diz  Gladstone Chaves de Melo, tiram  partido das qualidades físicas dos sons (altura e duração), para exprimir o matiz  que querem imprimir à frase.
No poema Camões, Almeida Garret, através de assonância, vai traduzindo as sinestesias do texto, produzindo  um efeito altamente  envolvente:
Saudade! Gosto amargo de infelizes,
Delicioso pungir  de acervo espinho,
Que me estás repassando o íntimo peito
Com dor que os seios d’alma dilacera,
- mas dor que tem prazer; - saudade!”

8. Diz-nos Rodrigues Lapa, o efeito  que as imagens e as palavras despertam, em nós, iluminam o pensamento.
Diria que a poesia está além do texto, nas vibrações do subconsciente, no âmago do ser.
 Uma palavra pode nos despertar diversos tipos de imagens, tais, como: sonora, motriz, visual. Assim, a palavra SINO lembra o som que produz, a força motriz que  movimenta o badalo e a forma que o sino tem; e pode evocar muitas outras circunstâncias.

9. Sabemos que, numa frase, cada palavra é lida no eixo SINTAGMÁTICO, correlação de palavras presentes e pelo eixo paradigmático, suscitando inúmeras palavras que, virtualmente estão presente por associações diversas.
A palavra LAR pode remeter nosso pensamento a inúmeras ideias, por associação. Cada palavra evoca muitas outras... e outras circunstâncias...

VERSATILIDADE 3

III
SINESTESIA–CORRESPONDÊNCIA DE SONS E CORES

10. Sinestesia- A cor e a música na Língua Portuguesa
Diz Charles Baudelair, que a poesia é a expressão da correspondência, que a linguagem é capaz de estabelecer  entre o concreto e o abstrato, o material e o ideal:
Os perfumes, as cores e os sons se correspondem”, como também os pensamentos e as emoções.
Informa-nos Rodrigues Lapa que Ramalho Ortigão considerava
saudade, uma palavra azul,
rancor, uma palavra vermelha.
Para outros, a palavra:
Brasil é amarela
Guerra é cinzenta
Clarim é amarelo
A este nível de análise dá-se o nome de sinestesias.
Filinto Elísio, poeta Português, foi quem, no século XVIII chamou a  atenção para a cor das palavras.

Certamente a cor  atribuída às vogais é uma atitude subjetiva que tem origem em associações  de reminiscências  psicológicas e se prestam a expressar o sentimento de quem lança mão  de tais recursos sinestésicos.

11. Valery Larbaud, grande escritor francês, quando esteve em Portugal resolveu aprender o português.
Entusiasmado pela doçura e simpatia dos portugueses, quis, através da língua, entender-lhe a alma.
Larbaud relata de modo encantador, sua experiência, no convívio com as palavras da Língua Portuguesa.
Relatou sua experiência na sua obra “Divertimento Filológico”:
Sua primeira impressão foi a doçura e graça de certas palavras.

12. As palavras: só, sozinho, rapariga, garota, rainha, andorinha, menina, boneca, medonho, beira-mar, saudade, tinham um sabor, um colorido e um sentimento todo especial, como vemos a seguir:
– A palavra exprime, na sua concisão desesperada, a extrema solidão e abandono.
Sozinho – Exprime admiravelmente a atitude do espírito, dobrado sobre si mesmo, na solidão.
Rapariga – Exprime o ruído alegre e juvenil de estudantes, na escola ou na rua.
Garota – É bonita palavra para as raparigas do povo: produz um impulso terno, familiar e amoroso, sem falta de respeito.
Rainha – Sugere algo exótico, que traz no vestido o perfume da Ásia.
Menina – Um termo encantador, com ar antigo e afidalgado. Neste sentido, um alemão, LINK, que visitou Portugal nos fins do século XVIII, dizia que a expressão “minha meninaera a mais doce que se encontrava em qualquer língua.
Boneca – uma palavra que compete, em formosura, com as palavras mais belas de outras línguas.
Medonho – Palavra impressionante. Considera que há qualquer coisa  de repugnante, infame e horroroso nesta palavra, que nos transmite náusea.
Beira-mar – Uma das palavras mais poéticas que conheceu: vasta, sonora, grandiosa, oceânica.
Saudade – Para Lardaud, é uma palavra formosa que sugere um céu nublado entre distantes zonas luminosas.
Outras palavras que impressionaram agradavelmente o escritor: namorar, namoro, doente, doença, vôo, dor, cor, carvalho, orvalho, cotovia, imenso, devagar, janota, ficar, poupar, meigo, brinco, brincadeira.

13. Enfim, diz Lapa, que para os escritores, palavras produzem nele, sentimentos “cheios de ressonâncias e de mistérios”.
Nesta quase  antropomorfização da palavra pode ser olhado o poema  de Antônio Ferreira, que antropomorfiza a própria Língua:
Floresça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua, e já onde for,
Senhora vá de si, soberana e altiva.”

AUTORES CITADOS
MELO, Gladstone Chaves de. Ensaio de Estilística da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1976
LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. Rio: Liv. Acadêmica, 1968.
UNAMUNO,Miguel de. Por Tierras de Portugal Y de España . Madri, Espasa – Calpe, 1960.

sonoridade 1

SONORIDADE, FORÇA E VERSATILIDADE
DA LÍNGUA PORTUGUESA
J. Jorge Peralta
I
LÍNGUA DE MATRIZ LATINA
Substrato, Superestrato e Adestrato
1. A Língua Portuguesa é uma língua dinâmica e versátil, aberta para o mundo e para a vida. É uma língua melodiosa, agradável aos ouvidos. Os estrangeiros costumam realçar esta característica.
Não é e nunca será uma língua fechada em si mesma. Por isso foi enriquecida por palavras e conceitos de outros povos do Oriente e do Ocidente, em decorrência de sua convivência com outros povos de outras civilizações.
A Origem comum, com as co-irmãs, garante-lhe relações de fronteira, com outras línguas de matriz latina, as línguas: galega, castelhana, italiana, francesa, romena, e também a catalã.
Diríamos que há uma natural intersecção, maior ou menor, entre as sete línguas. Essa intersecção, em nível gramatical, léxico, fonético, fonológico e semântico pode ser representado pelo gráfico que damos abaixo.
Todas as Línguas, de Matriz Latina, têm algo em comum e algo que as diferencia e lhes garante a identidade inconfundível.
2. A partir do modelo de teoria dos conjuntos, na relação de intersecção e disjunção, podemos traçar o seguinte quadro comparativo, entre a Língua Portuguesa e outras seis línguas de matriz latina, acrescida de outras matrizes próprias, como substrato e adestrato:


Lembramos que há elementos comuns a todas as línguas humanas. São os “Universais da Linguagem”.
Os Universais da Linguagem estabelecem os princípios e estruturas teóricas que regem a constituição básica das Línguas, como a teoria do signo, a relação língua e fala, as relações sintagmáticas e paradigmáticas, a dupla articulação, etc.
3. Para quem quer estudar português e castelhano ou italiano, como língua estrangeira (2ª língua), fica muito fácil, se o professor souber ensinar duas línguas, destacando as especificidades e as diferenças de cada uma.
A Língua Galega é idêntica à Língua Portuguesa, na sua essência. As duas têm origem comum, no substrato e no superestrato; não no adestrato. Português e Galego, desde a sua gestação, são variantes de uma mesma língua, falada pelos povos da Lusitânia e da Galiza. Por isso os galegos consideram-se Lusófonos. Querem aderir à Comunidade Lusófona.
Quando Portugal declarou sua independência, por motivos estratégicos, não trouxe a Galiza, que era povo da mesma cepa do português. Alguns acham que foi uma falha lastimável. Separou o povo, de si mesmo. Portugal e Galiza seriam um grande trunfo para ambos.
4. Devemos esclarecer que a língua, base de convivência, do ser e do pensar, envolve questões de ciência da linguagem (linguística), e também comporta abordagem histórica, sociológica, psicológica, acústica, etc. Aqui abordamos algumas dessas diferentes abordagens. Remetemos o leitor a obras específicas para aprofundar as informações e até as contradições de apreensão de uma realidade complexa e muito desafiante e deslumbrante.

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II
SONORIDADE, UMA FORÇA MARCANTE
5. Uma das grandes diferenças, entre a Língua Portuguesa e as demais línguas de matriz latina, está na sonoridade.
A Língua Portuguesa é, das línguas de matriz latina, a mais sonora. A sonoridade da Língua Portuguesa agrada os ouvidos, capazes de apreciá-la como arte.
Diz Miguel de Cervantes que “a Língua Portuguesa é a língua mais sonora que existe no mundo”. (Citado por Ariano Suassuna).
Já Miguel de Unamuno diz: “ A Língua Portuguesa é uma língua que é um mimo, um regalo, sobretudo para quem tem ouvidos feitos para o forte martelado do ossudo castelhano
E acrescenta: “O português tem vozes que nos acariciam os ouvidos e a imaginação (...) vozes cuja alma é intraduzível”.
Não é raro estrangeiros pararem, só para ouvirem pessoas falando em Língua Portuguesa. A sonoridade da nossa língua tem algo que produz uma musicalidade sedutora para os ouvidos: “Acaricia os ouvidos”.
6. Valery Larbaud, citado por Gilberto Freire, fala da evidência de ser a Língua Portuguesa, com o seu não sei quê de “estranho” e “nostálgico”, uma das mais belas e mais sonoras – talvez a mais bela e mais sonora (...)
Uma complexidade que torna o edifício verbal dos portugueses, semelhante ao seu estilo manuelino de arquitetura. Ambos se apresentam marcados por alguma coisa de exuberante, de mestiço, de contraditório, que vem da aventura ou da experiência ultramarina”(Um brasileiro, p.17)
7. Ante tão altos e autorizados elogios, vindos de grandes baluartes da língua castelhana e francesa, há que perguntar:
De onde vem tão rica sonoridade que se manifesta, de modo palpável, na Língua Portuguesa?
Respondemos que vem principalmente de seu sistema vocálico e de seu sistema consoante-vogal e vogal-vogal.
Dizem os filósofos que a beleza é o esplendor da forma (explendor-formis), pois bem as línguas humanas são belas e complexas estruturas linguísticas.
Pelo que vimos até aqui, poderemos dizer que a Língua Portuguesa excede todas, em beleza e versatilidade.
Se a Língua Portuguesa estivesse no páreo das sete (7) maravilhas do mundo, certamente seria a 1ª das 7 maravilhas do mundo. Expus este juízo muitas vezes em minhas aulas de linguística da USP, nas décadas de 70 a 90.

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III
CONTRASTE PORTUGUÊS-CASTELHANO
O Sistema Vocálico
8. Façamos então um estudo comparativo entre a Língua Portuguesa e a Língua Castelhana, de onde procedem comentários tão lisonjeiros, atrás citados.
Na realidade, de todas as línguas de matriz latina, a Língua espanhola é a única que disputa espaço de outras, em nível mundial. Ou melhor: a língua castelhana, com seu retrógrado sonho imperial, capitaneado por alguns xenófobos oportunistas, quer impor-se, como primeira língua, nos territórios lusófonos (Portugal, Brasil, etc) ainda que lance mão de um linguocídio, como faz com o galego, com o catalão, com o basco, e em Olivença, etc. Embora sem grandes resultados.
9. Observemos então uma análise comparativa entre o sistema vocálico castelhano (espanhol) e o sistema vocálico da Língua Portuguesa:
A Língua Portuguesa dispõe de 12 (doze) sons vocálicos distintivos, sendo:
7 sons vocálicos orais e 5 sons vocálicos nasais.
O sistema vocálico, com as semi-vogais, quebra a rusticidade do discurso, bem notório no castelhano; arredonda o discurso, quebrando as arestas da cadeia sonora, através de recurso da própria língua.
Poderíamos representar os sons vocálicos da Língua Portuguesa (fonemas), no seguinte quadro esquemático:

Anteriores Médias Reduzidas
Podemos classificar as vogais:
a) Quanto à zona de articulação na cavidade vocal:
anteriores, (palatais): i, e, é, ï, ë ; a, média e posteriores (labiais); ó, o,õ, u, ü.
b) Quanto ao timbre:
abertas: á, é, ó; fechadas: ê, ô; e reduzidas: i,u
c) Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal:
orais: a, é, e, i, ó, o, u; ou nasais: ã, ë, ï, õ, ü
d) Quanto a intensidade: átonas ou tônicas
10. A Língua Portuguesa possui ainda um complexo sistema de grupos vocálicos:
a) Ditongos crescentes e decrescentes, orais ou nasais
b) Tritongos orais ou nasais

sonoridade 4

  IV
GRUPOS VOCÁLICOS EM PORTUGUÊS
11. As vogais comumente, aparecem articuladas com consoantes: uma vogal + uma consoante, ou uma vogal entre duas consoantes: Ex: casa, mesa, janela; ou: papel, lápis, mês.
1) Grupo Vocálico: é a sequência de duas ou mais vogais, formando um conjunto.
Os grupos vocálicos podem reunir duas ou três vogais.
Quando é vogal + semi-vogal temos o ditongo ou tritongo: glória, história; quando o grupo é composto por vogal + vogal, forma um hiato: soar, perdoe.
O Ditongo pode ser crescente ou decrescente; oral ou nasal.
a) Ditongo Crescente: a voz incide sobre a segunda vogal: o primeiro elemento do ditongo é a semi-vogal.
Exemplos:
(ia) Glória, História;
(ie): série;
(io): ilusório;
(ua): contínua, água;
(ui): contrib, ruim;
(uo): árduo, exíguo.
A Língua Portuguesa tem 10 (dez) formas de ditongos crescentes. Aqui registro os mais comuns.
b) Ditongo Decrescente, ocorre quando a voz incide sobre o primeiro elemento: (caibro); os ditongos podem ser orais (chapéu) ou nasais (mãe).
c) Ditongos Crescentes Orais, quando a voz se apóia na primeira vogal e o som é emitido pela boca. Ex:
ai → caibro, saibro, sai;
               au → pau, bacalhau;
ei → quartéis;
ei → leite, feira;
éu → céu, chapéu;
eu → morreu, meu;
iu → ouviu, riu;
ói → anzóis, sois, dói,
oi → foice, boi;
ou → tesouro, dou;
ui → circuito, azuis.
Temos 13 (treze) formas de ditongos decrescentes.
d) Ditongos Crescentes Nasais, quando o som é produzido pelo ar que sai pelo nariz. Exemplos:
ãe: mãe, pães;
ão: cão, mão
em → (ëi) →bem; ontem;
e) Tritongo, sequência de três vogais: espiões, fiéis.
2) Hiato: quando duas vogais, em sequência, se pronunciam distintamente, em duas emissões de voz: tri-unfo; continu-e, perdo-e.
Nota: na fala é comum a tendência de amaciar o martelado de voz, causado pelo hiato, produzindo um ditongo.Ex: “perdoi”.
3) Prosódia
A prosódia é um capítulo da gramática que estuda as variações musicais significativas, linguísticas ou estilísticas, da linguagem humana: estuda o valor dos sons e tons produzidos pela cordas vocais.
Estuda também o ritmo que produz variações sonoras. Uma das marcas do texto, neste aspecto, é o sinal de interrogação ou de exclamação. Digo coisas diferentes quando falo: chegaste, ou chegaste?, ou ainda chegaste!

sonoridade 5

V
SISTEMA VOCÁLICO CASTELHANO
12. Na Língua Castelhana existem apenas cinco (05) vogais orais.
Em muitos lugares, no nível popular, os espanhóis tendem, em certas circunstâncias, a reduzir as vogais a apenas três (03): i, a, u.


A Língua Castelhana tende a ser mais pobre em sons e harmonias na fala. Por isso se diz que o castelhano é uma língua martelada, angulosa, rústica.
Valery Lardaud, falando do alargamento do sentido das palavras, diz que a Língua Portuguesa “destaca-se de seus parentes espanhóis, italianos e franceses, como de parentes pobres”. (Um Port. p. 17)

sonoridade 6

VI
AS VOGAIS E A HARMONIZAÇÃO DO DISCURSO
13. A questão das sonoridades harmônicas das línguas não está apenas na articulação das vogais e consoantes no discurso; está também na proporção de umas sobre as outras, na língua falada ou em determinado contexto.
A análise estilística, para explicar o encanto das harmonias da frase, passa pelo percentual de consoantes e de vogais, num determinado texto, e por sua articulação lógica.
14. A partir de análise de algumas amostras de discurso, descobrimos os seguintes dados, em relação ao percentual de vogais e de consoantes:
Dos 12 fonemas vocálicos da Língua Portuguesa, a expectativa é que se distribuam os sons vocativos e consonantais numa média aproximada de 48% de sons vocálicos e 52% de sons consonantais (dado a confirmar).
A Expectativa é também que os sons vocálicos mais utilizados sejam a, e, i, o, u, numa proporção aproximada de 37% de todos os fonemas (sons da língua) utilizados no texto.
O /a/ é o fonema mais frequente da Língua Portuguesa, seguido do /i/. O /a/ e o /i/ totalizam 22% do total de fonemas do discurso. O /a/ e o /i/ deixam o discurso aberto, alegre e agradável.
Os sons vocálicos: é, ó, ã, ë, ï, õ, ü são: aproximadamente 11% dos fonemas do discurso. São sons harmônicos, na orquestração do texto.
As 10 consoantes mais utilizadas em português são: s, r, d, t, g, k, p, m, n, l, na ordem.